segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O porquê do voto obrigatório

Em época de eleições, é comum uma questão voltar à mesa, instigada por uma suposta incapacidade de escolha da população brasileira: o voto obrigatório. O número de países que adotam esta prática não passa de trinta e algumas democracias consolidadas jamais cogitaram esta hipótese. Então por que no Brasil todos em idade eleitoral são, necessariamente, eleitores perante a lei?

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A primeira questão é cultural: votar não é um direito, é um dever. E não existe a opção para o brasileiro de delegar seu voto como nas assembleias de condomínio. Porque eximir-se de votar é aceitar passivamente a opinião alheia. Mas, e daí? Cada qual é responsável pelas escolhas que faz, certo?

O voto no Brasil deve ser obrigatório, sim, por outros motivos. O ato de votar tem um custo, que pode envolver um dia de trabalho perdido (ou algumas horas), deslocamento, busca de informação sobre candidatos, a obrigação de se ter uma opinião. E esse custo não é igual para todos os eleitores: aqueles que moram em centros urbanos ou muito próximos a sua seção eleitoral; aqueles que são politizados e não precisam de grande esforço para escolher seu candidato; aqueles que não trabalham nos fins de semana e ficam com o domingo livre para gastar meia hora para ir até as urnas – esses estariam sempre se fazendo representar.

Já os demais, que somam grande parte da população brasileira, e que nem sempre têm consciência de que seu voto faz, de fato, diferença, poderiam optar por não votar. Não é que o voto de uma pessoa possa mudar uma eleição, mas indica todo o comportamento de uma classe, significando que, como ele, muitos outros fizeram escolha semelhante.

E, no final, apenas aquela minoria teria voz, defendendo seus interesses (ainda que fossem coletivos) e calando um sem-número de pessoas que estariam cada vez mais longe do processo democrático e menos interessadas nas consequências de suas escolhas políticas.