Não há base para o impeachment da Dilma, isso é fato, pois não há nada que a vincule, nessa gestão, a atos criminosos. Entretanto, também não havia base para o impeachment de Fernando Collor, que acabou absolvido pelo STF. Para isso, ele tinha um testa-de-ferro que, afinal, não era tão de ferro assim.
Assim como em 1992, as manifestações ocorreram, algumas pedindo o fim da corrupção, outras o impeachment, ainda que, como a mídia internacional pontuou, quem foi às ruas era branco, mais velho e mais rico do que os de antes. Outros mais idiotas pediram intervenção militar. Tudo é muito democrático, mas o julgamento da presidente não vai ocorrer, não pelo motivo que falei acima: o PT ainda tem uma sólida base no Congresso que, apesar de não garantir a governabilidade, não vai permitir sequer que o pedido chegue a votação.
Mas a crise está aí e, em muitos aspectos, lembra a que precedeu a ditadura militar: o Brasil está entrando num estado de "paralisia decisória", como definiu Wanderley Guilherme dos Santos em seu livro "Sessenta e quatro: a anatomia da crise". Mas, diferentemente de outrora, os militares não estão dispostos a intervir e, dizem alguns pertencentes aos círculos, riem-se desta possibilidade.
O que pode acontecer é a governabilidade ficar tão comprometida e Dilma, com sua inabilidade política, piorar mais ainda a situação. Desta forma não lhe restará muita saída senão renunciar. E, como resultado desta crise institucional, entregaremos o Brasil de mão beijada para o PMDB, com Michel Temer presidente, Eduardo Cunha presidente da Câmara de Deputados, Renan Calheiros presidente do Senado, maioria no Congresso, maior número de governadores e prefeitos.
Entretanto, esta é uma visão catastrofista. Dilma, com sua personalidade, é capaz de passar quatro anos dando murro em ponta de faca. Ou vai colocar o rabo entre as pernas e chamar Lula para fazer o papel que deveria ser da Casa Civil de negociar com o Congresso.
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segunda-feira, 16 de março de 2015
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Rica não entendeu direito
Rica Perrone defende a Copa do Mundo. Ele é um blogueiro famoso, não obscuro como eu, ligado ao Globo Esporte e com apoio de Furnas, empresa estatal. Ele não só defende a Copa, mas defende o direito de defendê-la, de curti-la sem vergonha.
Também acho isso. Mas o que Rica não entendeu foi que os protestos não são somente sobre a Copa:
"Deve-se odiar a Copa, a Rede Globo e o que mais as minorias barulhentas determinarem. Acreditem, senhores! Para estes, não fossem estádios, estariamos cheios de hospitais hoje sem nenhum tipo de problema com corrupção. Afinal, a culpa é da Copa", diz, ironicamente.
Ninguém disse que se não houvesse Copa, os problemas da saúde e da corrupção no Brasil estariam solucionados. A Copa, com tudo o que foi gasto, esfregou a corrupção na nossa cara mais do que nunca, como já havia dito o deputado Romário. A grande revolta é: se há dinheiro para isso, por que não constroem hospitais, escolas, estradas, ferrovias, não melhoram os salários dos professores, não cobram menos nas passagens, e por aí vai. Se há tanto dinheiro para se fazerem estádios, alguns que se tornarão elefantes brancos, como em Manaus ou Fortaleza, por que a vida do brasileiro não melhora? Por que o serviço público é tão ruim?
Rica, a revolta existe e não é de uma minoria. Basta ler isso, ou isso, ou isso para saber. Basta andar pelas ruas das cidades-sede e ver a diferença entre esta Copa e as anteriores: não há ruas enfeitadas, não há muros ou ruas pintadas, não há bandeirinhas penduradas.
O povo brasileiro merece mais do que estádios e jogos de uma Copa cujos ingressos ele mesmo não tem dinheiro para pagar.
Também acho isso. Mas o que Rica não entendeu foi que os protestos não são somente sobre a Copa:
"Deve-se odiar a Copa, a Rede Globo e o que mais as minorias barulhentas determinarem. Acreditem, senhores! Para estes, não fossem estádios, estariamos cheios de hospitais hoje sem nenhum tipo de problema com corrupção. Afinal, a culpa é da Copa", diz, ironicamente.
Ninguém disse que se não houvesse Copa, os problemas da saúde e da corrupção no Brasil estariam solucionados. A Copa, com tudo o que foi gasto, esfregou a corrupção na nossa cara mais do que nunca, como já havia dito o deputado Romário. A grande revolta é: se há dinheiro para isso, por que não constroem hospitais, escolas, estradas, ferrovias, não melhoram os salários dos professores, não cobram menos nas passagens, e por aí vai. Se há tanto dinheiro para se fazerem estádios, alguns que se tornarão elefantes brancos, como em Manaus ou Fortaleza, por que a vida do brasileiro não melhora? Por que o serviço público é tão ruim?
Rica, a revolta existe e não é de uma minoria. Basta ler isso, ou isso, ou isso para saber. Basta andar pelas ruas das cidades-sede e ver a diferença entre esta Copa e as anteriores: não há ruas enfeitadas, não há muros ou ruas pintadas, não há bandeirinhas penduradas.
O povo brasileiro merece mais do que estádios e jogos de uma Copa cujos ingressos ele mesmo não tem dinheiro para pagar.
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Não há líderes ou somos todos líderes
Eduardo Paes diz que quer se reunir com os líderes do movimento. Não há lideres, sabe ele muito bem, e se utiliza disso para tentar esvaziar a importância das manifestações quando é justamente isso que as torna tão importantes.
Quando há líderes, o jogo é fácil: negocia-se com umas três ou quatro cabeças e se arrefece o movimento. Quando as reivindicações são pontuais, mais fácil ainda: chega-se a um meio-termo. Mas não há líderes nem reivindicações pontuais. E essa é a beleza da coisa.
O que os ditos especialistas ainda não entenderam é como funcionam as redes sociais. Há multiplicadores, e aderentes, que frequentemente se tornam multiplicadores. Somos todos líderes.
E a grande dificuldade nisso tudo é entender o que está sendo reivindicado. Não adianta perguntar, ler os cartazes. É preciso se meter nas redes, procurar as mensagens, entender o que está deixando as pessoas mais indignadas. E os pedidos são de reformas estruturais, não de ações pontuais.
Não sei se os assessores da presidente, dos governadores e dos prefeitos estão preparados para isso. É impossível dizer para onde vai essa multidão que sai às ruas pedindo mudanças. O movimento pode crescer ou esvaziar, pode seguir forte até a Copa do Mundo, até as Olimpíadas, ou as pessoas podem cansar e se conformar com pequenas ações dos mandatários. Cabe agora observar quem tem a melhor estratégia.
Quando há líderes, o jogo é fácil: negocia-se com umas três ou quatro cabeças e se arrefece o movimento. Quando as reivindicações são pontuais, mais fácil ainda: chega-se a um meio-termo. Mas não há líderes nem reivindicações pontuais. E essa é a beleza da coisa.
O que os ditos especialistas ainda não entenderam é como funcionam as redes sociais. Há multiplicadores, e aderentes, que frequentemente se tornam multiplicadores. Somos todos líderes.
E a grande dificuldade nisso tudo é entender o que está sendo reivindicado. Não adianta perguntar, ler os cartazes. É preciso se meter nas redes, procurar as mensagens, entender o que está deixando as pessoas mais indignadas. E os pedidos são de reformas estruturais, não de ações pontuais.
Não sei se os assessores da presidente, dos governadores e dos prefeitos estão preparados para isso. É impossível dizer para onde vai essa multidão que sai às ruas pedindo mudanças. O movimento pode crescer ou esvaziar, pode seguir forte até a Copa do Mundo, até as Olimpíadas, ou as pessoas podem cansar e se conformar com pequenas ações dos mandatários. Cabe agora observar quem tem a melhor estratégia.
Assunto:
Copa,
Corrupção,
Desrespeito,
Governo,
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Insensatez,
Internet,
Mídias sociais,
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Política,
Rio de Janeiro,
Serviço público
segunda-feira, 17 de junho de 2013
É por 26 bilhões de reais
Quando Arnaldo Jabor desandou a falar as asneiras que disse sobre os protestos, não me decepcionou. Porta-voz dos que pagam seu salário, não tardará a mudar de opinião, agora que a imprensa virou a casaca.
A população não está protestando por 20 centavos de aumento nas passagens de ônibus. Está protestando pelos 26 bilhões que deixaram de ser gastos em transporte, saúde e educação pública para construir e reconstruir estádios que, em qualquer lugar do mundo, teriam um custo bem menor. A corrupção a olhos vistos incomoda e o aumento das passagens foi um pretexto para as pessoas se reunirem por algo bem maior.
E os protestos foram pacíficos, fora um ou outro baderneiro. Mas a polícia nos proporcionou cenas que não víamos há 30 anos, atirando contra seu próprio povo, mirando balas de borracha no rosto das pessoas, disparando gás e spray de pimenta a esmo, prendendo pessoas sem que nenhum crime tivesse sido cometido.
O protesto é por todos. A classe média, que está nas ruas, não precisa frequentar hospitais públicos ou escolas da prefeitura. Tem dinheiro para andar de ônibus, táxi ou carro. Mas protesta pelos outros, que estão tão acostumados a serem tratados como gado que não entendem que é seu direito estudar numa escola decente, ser bem atendido num hospital e ter o dinheiro de seus impostos bem empregado.
Assunto:
Autoritarismo,
Copa,
Corrupção,
Desrespeito,
Ditadura,
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Educação,
Governo,
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Petralhas e privatas
Terminei de ler o livro "A privataria tucana", em que o autor Amaury Ribeiro Jr. prova com documentos todo o histórico de corrupção, suborno, desvio e lavagem de dinheiro que rolou durante a época das privatizações no governo Fernando Henrique. Do mesmo modo como não pegaram o Lula, nada respinga no seu antecessor, mas José Serra e sua família são completamente comprometidos pelos papéis reproduzidos no livro, especialmente em sua relação com o banqueiro Daniel Dantas. O esquema é muito sofisticado, envolvendo criação de empresas, mudança de razão social, falências, Miami, Ilhas Virgens e território nacional. Difícil rastrear, mas não impossível, tanto que o livro foi feito. E que nome aparece no esquema de lavagem? O de Marcos Valério.
Fiquei impressionado. Vi que, perto do PSDB, o PT parece um bando de crianças numa loja de doces fechada, lambuzando tudo e fazendo um estardalhaço, mesmo não querendo ser descoberto. Pegaram, julgaram e condenaram, para o bem do país.
E os tucanos? Quando serão pegos? A condenação dos petistas me deu esperança de que, mais cedo ou mais tarde, consigamos colocar no banco dos réus aqueles que merecem. Mas tem uma raposa que jamais será capturada e responde pelo nome de José Sarney: este sequer será investigado, e sabem por quê?
Porque todos precisam dele. O PMDB é o grande garantidor da governabilidade e sempre vai aderir ao partido que estiver no poder. Por isso, nunca é bom bater de frente com eles, pois quando chegar a sua vez de governar, eles estarão lá para dizer "sim senhor" e recolher sua fatia.

E os tucanos? Quando serão pegos? A condenação dos petistas me deu esperança de que, mais cedo ou mais tarde, consigamos colocar no banco dos réus aqueles que merecem. Mas tem uma raposa que jamais será capturada e responde pelo nome de José Sarney: este sequer será investigado, e sabem por quê?
Porque todos precisam dele. O PMDB é o grande garantidor da governabilidade e sempre vai aderir ao partido que estiver no poder. Por isso, nunca é bom bater de frente com eles, pois quando chegar a sua vez de governar, eles estarão lá para dizer "sim senhor" e recolher sua fatia.
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Burocracia e corrupção
Ontem, feriado da independência, eclodiram protestos contra a corrupção em algumas cidades do Brasil. Pessoalmente, só vi quatro pessoas carregando uma faixa na avenida Atlântica enquanto um homem de meia-idade andava em zigue-zague com a cara pintada distribuindo panfletos.
A corrupção é, de fato, um problema endêmico do nosso país e data da própria distribuição das Capitanias Hereditárias: o Brasil tem donos, sempre teve. Mas será mesmo que esse é o maior e principal problema a ser combatido? Será que os protestos estão na direção certa?
Eu discordo. O que se desvia por meio de corrupção no país é muito pouco comparado com sua arrecadação de tributos: da ordem de menos de 2%, embora alguns dados sejam discrepantes. E por que a máquina brasileira é tão emperrada?
Para mim, o grande problema do país é a burocracia. É evidente que por si só ela facilita a corrupção e, talvez, exista intencionalmente para isso. Mas combatendo o excesso de burocracia conseguiremos diminuir a corrupção e agilizar as atividades produtivas e financeiras no Brasil.
Por que ainda não conseguimos melhorar nossos aeroportos? Por que as obras do metrô atrasam tanto? Conseguiremos reformar e construir os estádios para a Copa do Mundo? Por que é tão difícil abrir e fechar uma empresa no Brasil?
Talvez precisemos focar mais na eficiência do Estado e da máquina pública. Assim poderemos unir o útil ao agradável: um país mais ágil se desenvolve melhor, mais rápido e dá menos espaço para desvios.
A corrupção é, de fato, um problema endêmico do nosso país e data da própria distribuição das Capitanias Hereditárias: o Brasil tem donos, sempre teve. Mas será mesmo que esse é o maior e principal problema a ser combatido? Será que os protestos estão na direção certa?
Eu discordo. O que se desvia por meio de corrupção no país é muito pouco comparado com sua arrecadação de tributos: da ordem de menos de 2%, embora alguns dados sejam discrepantes. E por que a máquina brasileira é tão emperrada?
Para mim, o grande problema do país é a burocracia. É evidente que por si só ela facilita a corrupção e, talvez, exista intencionalmente para isso. Mas combatendo o excesso de burocracia conseguiremos diminuir a corrupção e agilizar as atividades produtivas e financeiras no Brasil.
Por que ainda não conseguimos melhorar nossos aeroportos? Por que as obras do metrô atrasam tanto? Conseguiremos reformar e construir os estádios para a Copa do Mundo? Por que é tão difícil abrir e fechar uma empresa no Brasil?
Talvez precisemos focar mais na eficiência do Estado e da máquina pública. Assim poderemos unir o útil ao agradável: um país mais ágil se desenvolve melhor, mais rápido e dá menos espaço para desvios.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Só uma dor de cabeça
Dentro de alguns dias, Daniel Dantas não será mais considerado criminoso. O juiz Arnaldo Esteves Lima, do STJ, suspendeu todas as decisões tomadas a partir da operação Satiagraha, inclusive sua condenação. Esse é o primeiro passo para a anulação do processo e a liberação dos US$450 milhões que o banqueiro tem bloqueados nos Estados Unidos.
Dantas foi condenado a dez anos de prisão mais multa de R$12 milhões por corrupção ativa e está envolvido em processos de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Apesar de toda a polêmica gerada pela operação, a atitude da Polícia Federal foi louvável, como vem sendo em suas missões que deixaram de lado criminosos comuns e passaram a atacar as classes mais corruptas e impunes da sociedade. Há algum tempo, quadrilhas de classe média e alta vêm sendo desbaratadas e seus membros presos sem a habitual distinção entre pobres e ricos feita pelas polícias estaduais.
Mas de que isso adianta se, no fim, uma pessoa exerce um poder suficiente para jogar tudo pelo ralo? No final terá sido só uma grande dor de cabeça.
Dantas foi condenado a dez anos de prisão mais multa de R$12 milhões por corrupção ativa e está envolvido em processos de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Apesar de toda a polêmica gerada pela operação, a atitude da Polícia Federal foi louvável, como vem sendo em suas missões que deixaram de lado criminosos comuns e passaram a atacar as classes mais corruptas e impunes da sociedade. Há algum tempo, quadrilhas de classe média e alta vêm sendo desbaratadas e seus membros presos sem a habitual distinção entre pobres e ricos feita pelas polícias estaduais.
Mas de que isso adianta se, no fim, uma pessoa exerce um poder suficiente para jogar tudo pelo ralo? No final terá sido só uma grande dor de cabeça.
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