segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O risco da profissão

Ontem morreu o cinegrafista Gelson Domingos, da Rede Bandeirantes, durante uma troca de tiros na favela de Antares, em Santa Cruz. Quando morre um jornalista, ouvimos os mais diversos disparates, desde a crítica em relação ao empregador que, segundo alguns, deveria ter provido maiores condições de segurança para seu funcionário, até frases desconexas sobre liberdade de imprensa.

O colete balístico que o repórter utilizava era o mais resistente permitido pela lei. Atentado à liberdade de ir e vir, com certeza, mas apenas autoridades têm o poder de praticar atos contra a liberdade de imprensa. O fato é que, assim como aconteceu com o jornalista Tim Lopes, o jornalismo policial nesse nível é muito próximo da correspondência de guerra e tem os seus riscos. Entrar num tiroteio durante uma invasão policial é um risco calculado, tanto que foi o primeiro profissional de comunicação que morreu desta forma, mas o risco está lá.

Gelson tinha décadas na profissão e até então nada lhe havia acontecido. Outras pessoas estavam lá e agiram da mesma forma. O que aconteceu foi apenas uma fatalidade.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Boicote ao carro zero

Hoje recebi um email bem interessante sugerindo que façamos um boicote à compra de carros zero quilômetro. O consumidor brasileiro compra mais de três milhões de carros por ano, representando uma receita de cerca de 115 bilhões de reais. Ao mesmo tempo, o Brasil tem os carros mais caros do mundo por categoria, ou seja, compra-se um Gol 1000 no Brasil pelo preço de um Honda Civic nos Estados Unidos. E por quê?

É simples: porque o consumidor brasileiro não é nada exigente em termos de automóveis e topa pagar fortunas por porcarias. Coisa de novo-rico. Quem se lembra do então ministro Ciro Gomes criticando aqueles que compravam carros com ágio em 1994? E, ao contrário do senso comum, o que torna os carros caros no Brasil não é a carga tributária, mas sim o lucro das montadoras.

E nós podemos passar um ano sem comprar carros novos? É claro que sim. Dar um prejuízo de 115 bilhões a um dos setores que mais desrespeita o consumidor (carros 1000, sem airbags, sem freio ABS, sem direção hidráulica...) não seria só uma resposta, seria chegar a um novo patamar em termos de relacionamento. Precisa trocar de carro? Procure um com um, dois anos de uso; isso não beneficia a indústria. Ou espere um ano.

Se isso fosse possível, nos primeiros meses de 2012 os carros sofreriam uma queda vertiginosa de preços. Mesmo que a adesão fosse baixa, a indústria sentiria a diferença. Mas esse é outro problema do brasileiro: a falta de consciência coletiva e a sensação de que aqueles que têm ideias são apenas Quixotes atacando moinhos de vento.