segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lewis Hamilton: à moda antiga

Muito tem sido dito para criticar o piloto campeão de 2008 Lewis Hamilton. Ele faz por onde: acusa os comissários de racismo, sofre acidentes seguidos – na última corrida foram três em duas voltas – e estraga a corrida de muitos dos seus adversários.


Mas ele tem algo seu favor: seu estilo agressivo e inconsequente destoa dos pilotos comedidos, técnicos e pouco emotivos da Fórmula 1 de hoje. É claro que falta maturidade ao jovem britânico, mas seu estilo, uma mistura do arrojo de Ayrton Senna e da loucura de Nigel Mansell, dá um pouco de brilho aos motoristas que ocupam o grid na atualidade.

No Grande Prêmio da Bélgica de 2008, em Spa Francochamps, ele ultrapassou Kimi Räikkönen no estilo kart, escorregando com as rodas lateralmente até ocupar o espaço à frente do finlandês. Não é algo que se veja mais por aí. O mesmo arrojo o fez perder o campeonato de 2007 no GP da China, quando deixou os pneus chegarem ao limite e entregou dez pontos para seu adversário da Ferrari.

Naquele ano, sua briga com Alonso, agora já acalmada, lembrou de leve as desavenças de Senna e Prost na mesma McLaren lutando pelo título, só que com um final bem mais feliz para a equipe (em 2007, Räikkönen, da Ferrari, se beneficiou da briga e foi campeão).

Bem, resta-nos torcer para que mantenha seu estilo, mas com um pouco mais de juízo. Sua pilotagem me agrada muito e me faz matar um pouco a saudade daquela F1 que me fez amar o esporte.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Palocci: entre o ilegal e o imoral

Pode ser que Palocci esteja falando a verdade. Não há nenhum indício de que seu enriquecimento tenha sido ilícito, embora a velocidade com que isso aconteceu possa suscitar suspeitas. Mas o ilegal e o imoral têm muitas nuances em comum, especialmente dentro da política.

Palocci, ao deixar o governo Lula, virou um consultor valioso, assim como Gustavo Franco e André Lara Resende. Após deixarem o governo, os ex-presidentes do Banco Central cumpriram a quarentena prevista e aumentaram seus preços a partir do conhecimento adquirido no tempo de governo – atitude duramente criticada pelo Partido dos Trabalhadores. A diferença é que nenhum dos dois voltou para a política.

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil fez pior. Enriqueceu, provavelmente fez contratos com cláusula de sigilo, e achou normal voltar para a política. Imoral. Palocci deveria ter feito uma escolha entre a vida pública e uma vida privada luxuosa. Quis ficar com os dois, não deu.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Metrô: o legado da privatização

A história era sempre a mesma: o serviço público não funciona, privatiza-se. Se funciona, baixa-se a qualidade e se privatiza assim que a população começa a demonstrar sua insatisfação. Como contrapartida, criaram-se agências reguladoras para deveriam fiscalizar o serviço, mas, em geral, elas cumprem mal o seu papel.

Instituições privadas visam somente ao lucro. Boa imagem, bons serviços prestados e satisfação dos funcionários são, quando existentes, um efeito secundário de uma administração bem executada. Quando a lucratividade é baixa, busca-se a otimização dos processos, que pode ser resumida em duas opções: aumento de preços ou redução de custos. A primeira opção prejudica o consumidor de maneira óbvia. A segunda frequentemente acarreta em perda de qualidade e insatisfação dos funcionários e clientes.

Com o metrô do Rio de Janeiro não foi diferente. Essa semana, a concessionária foi multada pela primeira vez em 13 anos de péssimos serviços e grandes distorções. Por exemplo, o trajeto planejado pela linha 2, que iria até a Carioca pela Estácio e teria conexão com a linha 3 até Niterói, foi substituído por uma aberração em que os trens da linha 2 trafegam pelos trilhos da linha 1 levando os passageiros até Botafogo. A linha 4 deveria levar os passageiros de Botafogo até a Barra da Tijuca passando pelo Humaitá, Jardim Botânico e Gávea, agora será uma extensão da linha 1 a partir de Ipanema, pois o projeto original elevaria a passagem a R$6,20, segundo o governador Sérgio Cabral Filho. O morador da Barra, em vez de seguir de forma mais rápida até o Centro (Gávea-Jardim Botânico-Humaitá-Botafogo – 33 minutos até a Carioca), terá de fazer todo o percurso por toda a extensão da orla da Zona Sul (Gávea-Leblon-2 x Ipanema-3 x Copacabana-Botafogo – 50 minutos até a Carioca) e concentrando o fluxo de passageiros num único trajeto. Ou seja, redesenharam os trajetos para atender às expectativas de lucro da concessionária.

Serviços essenciais como água, esgoto, luz, transporte, saúde e segurança não devem ter como objetivo o lucro, mas o bom atendimento à população. Deixá-los na mão da iniciativa privada é uma grave inversão de valores que, como sempre, acaba por prejudicar o cidadão comum.