quinta-feira, 20 de junho de 2013

Não há líderes ou somos todos líderes

Eduardo Paes diz que quer se reunir com os líderes do movimento. Não há lideres, sabe ele muito bem, e se utiliza disso para tentar esvaziar a importância das manifestações quando é justamente isso que as torna tão importantes.

Quando há líderes, o jogo é fácil: negocia-se com umas três ou quatro cabeças e se arrefece o movimento. Quando as reivindicações são pontuais, mais fácil ainda: chega-se a um meio-termo. Mas não há líderes nem reivindicações pontuais. E essa é a beleza da coisa.


O que os ditos especialistas ainda não entenderam é como funcionam as redes sociais. Há multiplicadores, e aderentes, que frequentemente se tornam multiplicadores. Somos todos líderes.

E a grande dificuldade nisso tudo é entender o que está sendo reivindicado. Não adianta perguntar, ler os cartazes. É preciso se meter nas redes, procurar as mensagens, entender o que está deixando as pessoas mais indignadas. E os pedidos são de reformas estruturais, não de ações pontuais.

Não sei se os assessores da presidente, dos governadores e dos prefeitos estão preparados para isso. É impossível dizer para onde vai essa multidão que sai às ruas pedindo mudanças. O movimento pode crescer ou esvaziar, pode seguir forte até a Copa do Mundo, até as Olimpíadas, ou as pessoas podem cansar e se conformar com pequenas ações dos mandatários. Cabe agora observar quem tem a melhor estratégia.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

É por 26 bilhões de reais

Quando Arnaldo Jabor desandou a falar as asneiras que disse sobre os protestos, não me decepcionou. Porta-voz dos que pagam seu salário, não tardará a mudar de opinião, agora que a imprensa virou a casaca.

A população não está protestando por 20 centavos de aumento nas passagens de ônibus. Está protestando pelos 26 bilhões que deixaram de ser gastos em transporte, saúde e educação pública para construir e reconstruir estádios que, em qualquer lugar do mundo, teriam um custo bem menor. A corrupção a olhos vistos incomoda e o aumento das passagens foi um pretexto para as pessoas se reunirem por algo bem maior.

E os protestos foram pacíficos, fora um ou outro baderneiro. Mas a polícia nos proporcionou cenas que não víamos há 30 anos, atirando contra seu próprio povo, mirando balas de borracha no rosto das pessoas, disparando gás e spray de pimenta a esmo, prendendo pessoas sem que nenhum crime tivesse sido cometido. 

O protesto é por todos. A classe média, que está nas ruas, não precisa frequentar hospitais públicos ou escolas da prefeitura. Tem dinheiro para andar de ônibus, táxi ou carro. Mas protesta pelos outros, que estão tão acostumados a serem tratados como gado que não entendem que é seu direito estudar numa escola decente, ser bem atendido num hospital e ter o dinheiro de seus impostos bem empregado.

terça-feira, 16 de abril de 2013

A Guarda Municipal precisa acabar

Assim que surgiu a Guarda Municipal, não estava muito claro o seu papel, mas era dito que reprimiria a ação ilegal de camelôs. Em seu então uniforme azul, o que era visto era a apreensão de mercadorias que variavam de CDs piratas a frutas e verduras vendidas em barraquinhas. Existe uma grande diferença entre um e outro: o primeiro se utiliza de material alheio para lucro fácil, o segundo compra para revender, mas não tem autorização; a mercadoria do primeiro por si só já constitui crime, a do segundo é comprada legalmente nas centrais de abastecimento.

Eu já achava um absurdo que ambos tivessem o mesmo tratamento e não tenho certeza de que o auto de infração fosse preenchido devidamente em algum dos casos. A antiga "polícia fascista do Cesar Maia", como uma vez chamou uma professora minha, ganhou novas cores e nova chefia, mas não perdeu a pose. Entrou em conflito com camelôs, com a Polícia Militar e até com a população.

Sexta, dia 12 de abril, eu estava passando pelo Largo da Carioca quando vi um burburinho com cinco guardas municipais envolvidos. Eles estavam tentando apreender os instrumentos da banda argentina Dominga Petrona, que toca do funk ao ska e gera uma grande admiração e curiosidade entre os passantes. Um cidadão afirmou categoricamente que teriam de passar por cima dele para pegar os instrumentos da banda.


Quando comecei a fotografar o incidente, os guardas se afastaram. Falei alto para todos ouvirem: "Tem um cara vendendo programas piratas ali na frente do Edifício Avenida Central e pivetes assaltando na Praça São José, será que a Guarda Municipal não tem outras coisas para fazer?". O povo foi se inflamando e continuou defendendo a banda. Um dos guardas, cujo rosto aparece na foto, olhava para mim e ria: "Você é advogado?"


Continuei a defender a banda e perguntei por que não abordavam o cidadão que obviamente estava cometendo um crime. "Não sou policial civil", respondeu o guarda sorridente. E se aproximou de mim em pose desafiadora. Não me acanhei e andei em direção ao guarda. "Você está me acusando de alguma coisa?", questionou. "Estou denunciando uma atividade ilegal, você não está vendo? Claro que não, está de costas para o que acontece, não tem nada mais importante para fazer do que expulsar uma banda que só faz bem para a cidade".


Provavelmente desejei que o guarda encostasse a mão em mim tanto quanto ele desejou que eu o desacatasse. Nada disso aconteceu. Ele disse "Não vou ao seu escritório prejudicar seu trabalho, não prejudique o meu", ainda supondo que eu fosse um advogado. Respondi que ele prejudicava o trabalho da banda e eu, como cidadão, tinha o direito de protestar.

Ainda tive sorte de viver num Rio de Janeiro que, por mais desorganizado e violento que fosse (e ainda é), às pessoas era permitido expressar-se artisticamente. O que vão fazer agora? Prender estátuas humanas? O blueseiro que todos os dias toca na Carioca? Fechar as bancas de jornal que expõem vídeos musicais? Os peruanos que tocam flauta?

Esse é o Rio de Eduardo Paes: a "Ordem", o que quer que isso signifique, independentemente do péssimo sistema de transporte, das vias caindo aos pedaços, das vans e kombis legais e ilegais, dos buracos nas ruas, das obras repetidas, dos incêndios suspeitos no Centro, dos gabaritos desrespeitados e do Engenhão caindo aos pedaços.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tudo que a Coca-cola toca vira...

Há tempos ouço falar, de amigos que trabalham com isso, dos problemas que os produtos da a Coca-Cola enfrentam com uma logística ruim de distribuição, especialmente para o interior. Como se não bastasse, vemos em diversos lugares indícios de que a empresa proíbe a venda de produtos de outras marcas em certos bares que só vendem guaraná Kuat (antigamente, a Kaiser, que era de uma engarrafadora da Coca-Cola, também detinha esse privilégio). Até mesmo uma marca poderosa como o McDonald's há alguns anos deixou de vender o guaraná Antarctica para oferecer o similar da concorrência.

Em 2006, a multinacional comprou a fábrica dos sucos Del Valle e, no ano seguinte, assumiu o controle da fábrica do Matte Leão. Hoje, a Coca-Cola domina o mercado nacional de bebidas não alcoólicas com ampla vantagem no segmento de refrigerantes. O monopólio é de tal ordem que já quase não há opções para comprar sucos de frutas em caixa, mates e chás gelados.

Isso seria transparente ao consumidor, não fosse a mania deles de "cocacolizarem" seus produtos, transformando-os numa água com açúcar flavorizada. Não há mais possibilidade de se tomar um produto de qualidade e razoavelmente saudável: ou vem com quase 50% de açúcar, ou vem entupido de aspartame e ciclamato.

Como o Cade aprovou essas aquisições? E o Ministério da Saúde, não tem nada a dizer?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O que a Venezuela tem a oferecer ao povo?

Chávez, durante muito tempo, foi o melhor que a Venezuela pôde ter. O país sofre com uma das maiores desigualdades sociais do planeta, onde os ricos são poucos e muito ricos e os pobres são muitos e miseráveis. A classe média é pequena e pouco representativa.

O ditador governou contra as elites, mas não necessariamente pelo povo. Tratou de perpetuar-se no poder guiando o rebanho com o mínimo: saúde pública, um princípio de distribuição de renda que proporcionou o crescimento, ou mesmo surgimento, de uma nova classe média. Entrou no vácuo político de um país que fora mais um quintal dos Estados Unidos, um provedor de petróleo como seus parceiros no Oriente Médio.

A oposição venezuelana, até há pouco, era formada pelas elites que queriam um governo em causa própria, voltado para a exportação de seu petróleo de baixa qualidade e a manutenção das riquezas nas mãos de poucos. Uma nova oposição surgiu durante o governo Chávez, mas não sabemos ainda o que ela quer e para quem ela pretende governar.


Agora Chávez está no fim de sua vida e, provavelmente, tentará fazer com seu país o que Fidel fez com Cuba. Mas a história dos dois países é diferente e alguma oposição chegará no poder algum dia. O que podemos esperar é que Chávez não tivesse razão, que um outro governo possa dar ao povo o que o povo precisa.