segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O risco da profissão

Ontem morreu o cinegrafista Gelson Domingos, da Rede Bandeirantes, durante uma troca de tiros na favela de Antares, em Santa Cruz. Quando morre um jornalista, ouvimos os mais diversos disparates, desde a crítica em relação ao empregador que, segundo alguns, deveria ter provido maiores condições de segurança para seu funcionário, até frases desconexas sobre liberdade de imprensa.

O colete balístico que o repórter utilizava era o mais resistente permitido pela lei. Atentado à liberdade de ir e vir, com certeza, mas apenas autoridades têm o poder de praticar atos contra a liberdade de imprensa. O fato é que, assim como aconteceu com o jornalista Tim Lopes, o jornalismo policial nesse nível é muito próximo da correspondência de guerra e tem os seus riscos. Entrar num tiroteio durante uma invasão policial é um risco calculado, tanto que foi o primeiro profissional de comunicação que morreu desta forma, mas o risco está lá.

Gelson tinha décadas na profissão e até então nada lhe havia acontecido. Outras pessoas estavam lá e agiram da mesma forma. O que aconteceu foi apenas uma fatalidade.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Boicote ao carro zero

Hoje recebi um email bem interessante sugerindo que façamos um boicote à compra de carros zero quilômetro. O consumidor brasileiro compra mais de três milhões de carros por ano, representando uma receita de cerca de 115 bilhões de reais. Ao mesmo tempo, o Brasil tem os carros mais caros do mundo por categoria, ou seja, compra-se um Gol 1000 no Brasil pelo preço de um Honda Civic nos Estados Unidos. E por quê?

É simples: porque o consumidor brasileiro não é nada exigente em termos de automóveis e topa pagar fortunas por porcarias. Coisa de novo-rico. Quem se lembra do então ministro Ciro Gomes criticando aqueles que compravam carros com ágio em 1994? E, ao contrário do senso comum, o que torna os carros caros no Brasil não é a carga tributária, mas sim o lucro das montadoras.

E nós podemos passar um ano sem comprar carros novos? É claro que sim. Dar um prejuízo de 115 bilhões a um dos setores que mais desrespeita o consumidor (carros 1000, sem airbags, sem freio ABS, sem direção hidráulica...) não seria só uma resposta, seria chegar a um novo patamar em termos de relacionamento. Precisa trocar de carro? Procure um com um, dois anos de uso; isso não beneficia a indústria. Ou espere um ano.

Se isso fosse possível, nos primeiros meses de 2012 os carros sofreriam uma queda vertiginosa de preços. Mesmo que a adesão fosse baixa, a indústria sentiria a diferença. Mas esse é outro problema do brasileiro: a falta de consciência coletiva e a sensação de que aqueles que têm ideias são apenas Quixotes atacando moinhos de vento.

domingo, 16 de outubro de 2011

A tragédia no restaurante Filé Carioca

Na última quinta-feira, dia 13 de outubro, uma explosão destruiu o restaurante Filé Carioca, na Praça Tiradentes. Eu costumava frequentá-lo esporadicamente e tinha dado uma avaliação muito positiva do restaurante no meu guia "Comer no Centro". Foi o único restaurante cujo dono se manifestou respondendo a minha avaliação e efetivamente promovendo mudanças a fim de aumentar a qualidade do estabelecimento.

Por esse motivo, gravamos no interior do Filé Carioca no dia 6 de outubro, exatamente uma semana antes da tragédia, um programa para circular na televisão interna do meu trabalho sobre o guia. Conheci o dono, o Rogério, que me explicou as mudanças que foram feitas, principalmente no sistema de exaustão, pois a umidade deixava o subsolo com cheiro de mofo.

Essa informação estava como comentário do dono no meu guia, já que em minha avaliação eu chamava a atenção para o odor incômodo. Com o problema resolvido, retirei este trecho, mas não o comentário que informava da resolução do problema. Eis que, após a tragédia, um debate surgiu na área de comentários da avaliação e um jornalista com o péssimo hábito de não checar as informações escreveu uma matéria para a Veja online utilizando esses comentários como fonte. Resultado: confundiu o problema do cheiro de mofo do subsolo com um possível problema de exaustão da cozinha do restaurante, levando o leitor a uma falsa conclusão.

Não sabemos até que ponto Rogério, o dono do restaurante, teve responsabilidade sobre o ocorrido. O fato é que houve inspeções no local e o estabelecimento nunca foi interditado ou multado por estocar gás em bujões. É claro que, quando se fala em gás, é notória a necessidade de se manter o local aberto e arejado para caso de vazamento. Houve negligência? Talvez. Ignorância? Com certeza. Mas culpar abertamente Rogério, às vezes com adjetivos mais do que pejorativos, como fizeram nos comentários (alguns apagados por mim para poupar as pessoas ligadas ao evento), é, no mínimo, imprudente. Deixemos as autoridades fazerem seu papel e descobrirem exatamente o que aconteceu. Ouçamos o que o Rogério tem a dizer sobre isso tudo. Antes disso, somente podemos prestar solidariedade a ele e às vítimas desta tragédia.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Humor?

É relativamente recente, no Brasil, o sucesso do humor de stand up, derivado dos programas mais informais da televisão, como o Pânico na TV e o CQC. Nesses últimos anos, novos talentos surgiram, uns mais, outros menos inspirados, mas o formato conquistou seu espaço e se consagrou.

Nessa informalidade, alguns humoristas se esquecem de que não estão numa mesa de bar com os amigos, liberados para falar qualquer grosseria que lhes venha à cabeça. O que parece acontecer é que eles ficam tão populares e tão acostumados a desmoralizar pessoas públicas utilizando o humor – e contra o humor não há argumento possível – que desenvolvem uma arrogância que os faz pensar que podem falar qualquer coisa e se livrar disso. E mais: que todos têm a obrigação de achar graça de suas piadas e que quem não acha é babaca.

Depois de falar que mulher feia deveria dar graças a deus por ser estuprada, Rafinha Bastos afirmou que Wanessa Camargo "está bonitinha grávida" e que "comeria ela e o bebê". A grosseria na televisão brasileira parece ter ultrapassado a barreira do mau gosto e chegado a uma questão, talvez, de desrespeito à lei, com incitação ao estupro e de extremo desrespeito às mulheres em ambos os casos.

Suspensão foi pouco. Rafinha Bastos deveria ser demitido do canal e afastado da televisão brasileira por um bom tempo para repensar seus conceitos de humor e liberdade de expressão.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Burocracia e corrupção

Ontem, feriado da independência, eclodiram protestos contra a corrupção em algumas cidades do Brasil. Pessoalmente, só vi quatro pessoas carregando uma faixa na avenida Atlântica enquanto um homem de meia-idade andava em zigue-zague com a cara pintada distribuindo panfletos.

A corrupção é, de fato, um problema endêmico do nosso país e data da própria distribuição das Capitanias Hereditárias: o Brasil tem donos, sempre teve. Mas será mesmo que esse é o maior e principal problema a ser combatido? Será que os protestos estão na direção certa?

Eu discordo. O que se desvia por meio de corrupção no país é muito pouco comparado com sua arrecadação de tributos: da ordem de menos de 2%, embora alguns dados sejam discrepantes. E por que a máquina brasileira é tão emperrada?

Para mim, o grande problema do país é a burocracia. É evidente que por si só ela facilita a corrupção e, talvez, exista intencionalmente para isso. Mas combatendo o excesso de burocracia conseguiremos diminuir a corrupção e agilizar as atividades produtivas e financeiras no Brasil.

Por que ainda não conseguimos melhorar nossos aeroportos? Por que as obras do metrô atrasam tanto? Conseguiremos reformar e construir os estádios para a Copa do Mundo? Por que é tão difícil abrir e fechar uma empresa no Brasil?

Talvez precisemos focar mais na eficiência do Estado e da máquina pública. Assim poderemos unir o útil ao agradável: um país mais ágil se desenvolve melhor, mais rápido e dá menos espaço para desvios.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Murders and executions II

Dilma mandou o BNDES se retirar do negócio do Pão de Açúcar com o Carrefour. Não dá para entender nem por que o banco estava metido nisso, para começar, a não ser pelo fato de Abílio Diniz ter apoiado o PT nas últimas três eleições.

Não sou a favor do liberalismo, acho que o Estado deve, sim, intervir na economia. Já está mais do que provado pela década de 1990 que o mercado não se regula sozinho e que precisa de mais do que agências e legislação estrita.

Grandes conglomerados estão se unificando, vide a compra da Brasil Telecom pela Oi, as compras dos bancos Unibanco e Real respectivamente por Itaú e Santander, a compra dos postos Ipiranga pela Petrobras e a própria aquisição do grupo Sendas pela empresa de Abílio Diniz. Isso sem falar na gigantesca Ambev, que levou esse movimento a um nível internacional engolindo a belga Interbrew e a tradicional estadunidense Anheuser-Busch, dona da Budweiser, a mais "americana" das cervejas.

Não é a sua mão aí

Com isso, cai um princípio básico da economia capitalista que é o da concorrência. E o Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, parece não estar conseguindo (ou tentando) proteger o consumidor da monopolização da economia. E, por consequência, a qualidade destes serviços não tardará em cair.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lewis Hamilton: à moda antiga

Muito tem sido dito para criticar o piloto campeão de 2008 Lewis Hamilton. Ele faz por onde: acusa os comissários de racismo, sofre acidentes seguidos – na última corrida foram três em duas voltas – e estraga a corrida de muitos dos seus adversários.


Mas ele tem algo seu favor: seu estilo agressivo e inconsequente destoa dos pilotos comedidos, técnicos e pouco emotivos da Fórmula 1 de hoje. É claro que falta maturidade ao jovem britânico, mas seu estilo, uma mistura do arrojo de Ayrton Senna e da loucura de Nigel Mansell, dá um pouco de brilho aos motoristas que ocupam o grid na atualidade.

No Grande Prêmio da Bélgica de 2008, em Spa Francochamps, ele ultrapassou Kimi Räikkönen no estilo kart, escorregando com as rodas lateralmente até ocupar o espaço à frente do finlandês. Não é algo que se veja mais por aí. O mesmo arrojo o fez perder o campeonato de 2007 no GP da China, quando deixou os pneus chegarem ao limite e entregou dez pontos para seu adversário da Ferrari.

Naquele ano, sua briga com Alonso, agora já acalmada, lembrou de leve as desavenças de Senna e Prost na mesma McLaren lutando pelo título, só que com um final bem mais feliz para a equipe (em 2007, Räikkönen, da Ferrari, se beneficiou da briga e foi campeão).

Bem, resta-nos torcer para que mantenha seu estilo, mas com um pouco mais de juízo. Sua pilotagem me agrada muito e me faz matar um pouco a saudade daquela F1 que me fez amar o esporte.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Palocci: entre o ilegal e o imoral

Pode ser que Palocci esteja falando a verdade. Não há nenhum indício de que seu enriquecimento tenha sido ilícito, embora a velocidade com que isso aconteceu possa suscitar suspeitas. Mas o ilegal e o imoral têm muitas nuances em comum, especialmente dentro da política.

Palocci, ao deixar o governo Lula, virou um consultor valioso, assim como Gustavo Franco e André Lara Resende. Após deixarem o governo, os ex-presidentes do Banco Central cumpriram a quarentena prevista e aumentaram seus preços a partir do conhecimento adquirido no tempo de governo – atitude duramente criticada pelo Partido dos Trabalhadores. A diferença é que nenhum dos dois voltou para a política.

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil fez pior. Enriqueceu, provavelmente fez contratos com cláusula de sigilo, e achou normal voltar para a política. Imoral. Palocci deveria ter feito uma escolha entre a vida pública e uma vida privada luxuosa. Quis ficar com os dois, não deu.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Metrô: o legado da privatização

A história era sempre a mesma: o serviço público não funciona, privatiza-se. Se funciona, baixa-se a qualidade e se privatiza assim que a população começa a demonstrar sua insatisfação. Como contrapartida, criaram-se agências reguladoras para deveriam fiscalizar o serviço, mas, em geral, elas cumprem mal o seu papel.

Instituições privadas visam somente ao lucro. Boa imagem, bons serviços prestados e satisfação dos funcionários são, quando existentes, um efeito secundário de uma administração bem executada. Quando a lucratividade é baixa, busca-se a otimização dos processos, que pode ser resumida em duas opções: aumento de preços ou redução de custos. A primeira opção prejudica o consumidor de maneira óbvia. A segunda frequentemente acarreta em perda de qualidade e insatisfação dos funcionários e clientes.

Com o metrô do Rio de Janeiro não foi diferente. Essa semana, a concessionária foi multada pela primeira vez em 13 anos de péssimos serviços e grandes distorções. Por exemplo, o trajeto planejado pela linha 2, que iria até a Carioca pela Estácio e teria conexão com a linha 3 até Niterói, foi substituído por uma aberração em que os trens da linha 2 trafegam pelos trilhos da linha 1 levando os passageiros até Botafogo. A linha 4 deveria levar os passageiros de Botafogo até a Barra da Tijuca passando pelo Humaitá, Jardim Botânico e Gávea, agora será uma extensão da linha 1 a partir de Ipanema, pois o projeto original elevaria a passagem a R$6,20, segundo o governador Sérgio Cabral Filho. O morador da Barra, em vez de seguir de forma mais rápida até o Centro (Gávea-Jardim Botânico-Humaitá-Botafogo – 33 minutos até a Carioca), terá de fazer todo o percurso por toda a extensão da orla da Zona Sul (Gávea-Leblon-2 x Ipanema-3 x Copacabana-Botafogo – 50 minutos até a Carioca) e concentrando o fluxo de passageiros num único trajeto. Ou seja, redesenharam os trajetos para atender às expectativas de lucro da concessionária.

Serviços essenciais como água, esgoto, luz, transporte, saúde e segurança não devem ter como objetivo o lucro, mas o bom atendimento à população. Deixá-los na mão da iniciativa privada é uma grave inversão de valores que, como sempre, acaba por prejudicar o cidadão comum.

domingo, 8 de maio de 2011

Nosso pequeno Congresso

No vácuo do Poder Legislativo, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela equiparação de direitos entre as relações homossexuais e heterossexuais. Isso quer dizer que, na prática, o casamento civil homossexual passa a ser aceito aos olhos da Justiça.

A lição política que tiramos desta decisão é que o Congresso Nacional, quando tratando de temas polêmicos, amedronta-se e se cala, transferindo a responsabilidade para o Poder Judiciário. Diversas vezes tentaram-se passar projetos para legislar sobre a situação de união civil estável entre pessoas do mesmo sexo, mas estes nem chegavam ao plenário para votação.


Agora o Ministro Ayres Britto coloca os pingos nos is e avisa que o Legislativo não poderá mais se omitir da questão. Cabe ao Congresso Nacional terminar o processo iniciado pelo STF e criar a Lei que regulamenta este tipo de relação. Será que nossos parlamentares continuarão a se apequenar, calados e amedrontados?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A morte do bicho-papão

O espetáculo está terminado. Dez anos, duas guerras e trilhões de dólares depois, os Estados Unidos afirmam ter matado Osama Bin Laden que, diferentemente da criatura primitiva que habitava cavernas, estava confortavelmente instalado numa mansão no Paquistão.

Ontem, Obama mostrou sua cara triunfante ao mundo para dizer que a inteligência estadunidense havia funcionado e que haviam conseguido matar o maior inimigo de seu país, o Goldstein contemporâneo, o bicho-papão. Ontem, olhei para Obama e vi George W. Bush.

Muito provavelmente Osama tramou e ajudou a executar os ataques ao World Trade Center. Mas onde estão os outros, responsáveis indiretos pelo ataque como o Departamento de Defesa, o ex-presidente e todos aqueles que permitiram, por incompetência, conivência ou cumplicidade, que os Estados Unidos fossem atacados em seu território continental?

Obama ontem vendeu uma ilusão: a de que os Estados Unidos venceram o terrorismo. Ele se esqueceu de dizer que o maior terrorismo contra o povo estadunidense quem faz é o próprio país.

terça-feira, 29 de março de 2011

Por que devolvi meu celular

Ávido por tecnologia, resolvi trocar meu celular Motorola Milestone por um Milestone 2. O novo celular teria um sistema operacional mais avançado, mais rápido e com melhor aproveitamento do espaço por utilizar o cartão de memória para guardar os aplicativos.

Fui à loja e, todo empolgado, gastei meus bônus para conseguir um mísero desconto de 300 reais. O benefício compensaria o custo, além do fato de eu poder vender o celular antigo, que está em perfeito estado. Configurá-lo foi fácil, pois o Google, fabricante do sistema operacional, costuma ter uma boa visão das necessidades do usuário. Mas quando a Motorola entrou na história, começaram os problemas.

Primeiramente, tenho um programa de GPS da Motorola chamado Motonav, que funcionava perfeitamente no Milestone antigo. Tentei, sem sucesso, passá-lo para o novo, mas o SAC da Motorola me avisou que o programa era incompatível. Mentira, pois consegui fazer uma gambiarra para instalar o programa, que eu já havia comprado para o celular antigo.

Problema resolvido, hora de organizar os contatos, que são atualizados diretamente da conta do Google. Mas a Motorola inventou um tal de MotoBlur, que vincula todos os contatos às redes sociais das quais eles participam. Não haveria problema se eu pudesse editá-los, mas ele me obriga a usar, por exemplo, o nome do usuário no orkut. Então aquelas pessoas que gostam de colocar estrelinhas e desenhinhos ao lado do nome ficavam ridículas, como, por exemplo, **--__ Zé __--**.

Para piorar, uma função que havia no antigo sumiu no novo: a opção de esconder os contatos sem números de telefone. Como a lista de contatos é a mesma do meu Gmail, muitos dos contatos têm apenas nome e endereço de email, sendo inúteis para aparecerem quando eu necessito fazer uma ligação. Ao ser atendido, novamente, pelo SAC da Motorola, recebi uma resposta dizendo que, por causa do MotoBlur, eles haviam suprimido a função.


Resumindo: hoje passei de volta na loja e devolvi o aparelho que comprei ontem. Foi rápido e indolor. E, com a experiência de 24 horas que tive com o gadget, dou um conselho: não troque seu Milestone pela versão mais avançada, o Milestone 2. Aguarde até que a Motorola mande a atualização do sistema, pois você tem um dos melhores celulares do mercado em custo-benefício.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O voto pela Lei

Nesta semana, li inúmeras mensagens descendo o malho em Luiz Fux, o novo Ministro do Supremo Tribunal Federal, por sua decisão adiando a validade da Lei da Ficha Limpa para as eleições de 2012. Nos jornais, a notícia era a de que Fux surpreendera a população com seu voto. Na internet, a palavra era "traição".

Mas Fux fez o certo: evitou a abertura de um precedente perigoso que, por mais que fosse ser usado desta vez a favor do eleitorado, poderia dar margem a futuras mudanças maliciosas. A questão toda é que, quando a Lei da Ficha Limpa foi votada, já não era possível alterar a Lei Eleitoral para 2010 dada a proximidade com as eleições. Imagine se, em julho de 2014, com as candidaturas prontas, os deputados resolvem mudar o sistema para lista fechada? Não haveria tempo para mudar as campanhas e explicar para o eleitorado seu funcionamento. E sempre se poderia usar 2010 como argumento para validar a alteração da Lei.

Fux defendeu a população fazendo algo que foi contra a opinião pública. Foi corajoso, arriscou-se a todo o tipo de hostilidade, mas manteve a coerência do sistema eleitoral brasileiro. E nós, eleitores, precisamos esperar apenas quatro anos (oito, no caso de senadores) para nos livrarmos dos bandidos que foram eleitos no ano passado. Considerando tantas décadas de luta no Brasil pela democracia, até que não é tanto.

terça-feira, 15 de março de 2011

O consumidor e as redes sociais

Recentemente estive na Campus Party Brasil e segui constatando quanto a internet mudou a vida das pessoas. No que tange ao direito do consumidor, dois casos bem recentes dão o tom do poder que o cidadão comum ganhou. Agora, existe a real possibilidade de se lutar de igual para igual contra grandes empresas, simplesmente porque existe o canal e há pessoas dispostas a disseminar os casos via twitter ou mesmo por email.

No primeiro caso, Oswaldo Borelli levou sua geladeira à porta de casa e fez um vídeo explicando que ficou 90 dias sem geladeira porque a Brastemp não resolvia o defeito de fabricação. A empresa se desculpou publicamente e entregou um produto novo para o cliente. Mas agora pensarei duas vezes antes de comprar algo da marca.

No mais recente, a consumidora Daniely Argenton denunciou o descaso da Renault com seu Mégane comprado zero com defeitos de fabricação. Desde 2007 ela vem tentando consertar seu carro junto à montadora, que sempre o devolve com o mesmo defeito. Daniely entrou na justiça para ser ressarcida e criou um website explicando o caso, mas a Renault tirou o site do ar através da Justiça de Santa Catarina.

Um tiro no pé: a imprensa costuma tomar o lado do consumidor e seu caso ganhou repercussão devido à decisão da Justiça. A Brastemp foi mais inteligente e pediu desculpas.

O importante é que cada vez mais aprendemos a nos defender como consumidores, temos cada vez mais armas e precisamos saber usá-las para que a política das empresas mude e passe a nos respeitar de verdade, não somente em suas belas propagandas na televisão.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Democracia árabe?

As revoltas populares estão pipocando no mundo árabe como uma bola de pingue-pongue solta numa sala com ratoeiras com bolinhas iguais. A demanda por democracia nada mais é do que uma demanda por poder, essa que todos os povos têm, mas nem sempre têm a oportunidade de fazer valer, ou mesmo de expressá-la.

Tunísia e Egito derrubaram seus ditadores. Enquanto a Tunísia formou um governo de coalizão com os líderes de todos os partidos, o Egito está nas mãos dos militares que prometem devolver o poder ao povo em poucos meses enquanto insistem que a vida volte ao normal.

O que há de novo nisso tudo? Nada. Revoluções são constantes no mundo árabe, com trocas de ditadores, de doutrinas, de ideologias. Até o Irã, que não é árabe, mas sofre os mesmos tipos de abalo, já teve sua revolução, que criou a teocracia do Aiatolá Khomeini. Democracia é outra coisa.

O mundo árabe jamais conheceu um regime democrático. Quando a Faixa de Gaza ganhou autonomia, sua população elegeu, sabe-se lá em que bases, o Hamas para governar a região. Nada foi construído, mas os líderes da oposição, o Fatah, foram presos ou mortos e iniciou-se um ataque a Israel com chuvas diárias de foguetes sobre a sua população.

O Egito tem, em seu território, um grupo representativo chamado Irmãos Muçulmanos, ou Irmandade Muçulmana, como é conhecido em português. Hoje eles representam 20% do parlamento e seus métodos são conhecidos historicamente pela destruição e assassinatos – políticos ou não, pois qualquer estrangeiro ou não-muçulmano é considerado inimigo. É possível ter uma ideia do que vai acontecer caso esse grupo seja democraticamente eleito para representar o povo egípcio.

 
Portanto é preciso olhar com parcimônia para os desdobramentos dos acontecimentos na Tunísia e no Egito, que já refletem em outros países como Bahrein, Iêmen e, ainda de leve, no Irã. Afinal, um governo democrático não é aquele que representa a maioria, mas aquele no qual toda a população se faz representar.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Nike: o mau gosto habitual

Acabou de ser lançada a nova camisa da Seleção. Como por hábito, a Nike desrespeitou as tradições e inseriu uma barra horizontal na altura do diafragma dos jogadores. Para piorar, o uniforme reserva, que era azul, passou a ser aquele verde indefinido que os goleiros costumavam usar. Eles ainda tentaram empurrar uma camisa preta (!), mas a CBF vetou.


Não é a primeira vez que a Nike pisa na bola com a Seleção. Em 2002, criou um modelo com polígonos verdes poluindo a frente da camisa numa padronização ridícula de todas as seleções que patrocinava e, dois anos depois, levou o escudo para o centro da camisa e cercou o número dos jogadores com um círculo, inspirada, talvez, num jogo de bilhar (na verdade, dizem que foi nos carros da Porsche).


Assim que assinou seu fatídico contrato com o Flamengo, a fornecedora lançou um uniforme ridículo, com um escudo no lugar do tradicional CRF. Era quase um pleonasmo, já que a própria camisa representa o escudo do time com o CRF no canto. Uma ode ao mau gosto, interrompida pela volta de Márcio Braga.


Enfim, eu não esperava nada muito melhor de uma empresa que se julga maior do que os times e seleções que patrocina.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por dinheiro

É impressão minha ou a Ferrari mudou seu logotipo para ficar parecido com o de seu patrocinador, proibido de exibir a marca nos carros e macacões?


A equipe já havia sido alertada para retirar o código de barras que ficava na lateral de seus monopostos por conter mensagem subliminar da marca de cigarro. Pelo visto, encontraram um jeito de agradar o patrocinador, com quem acabou de renovar contrato até 2013 como title sponsor, aquele que dá nome ao time: Scuderia Ferrari Marlboro. Permanece o único time patrocinado pela indústria tabagista.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Asfalto liso, bueiro fundo

A iniciativa merece aplauso, afinal nós cariocas estamos acostumados com trilhas de rali, não com pistas urbanas. Desde os tempos em que eu ia para Vila Valqueire para o ensaio da minha banda, eu tinha a sensação de estar numa pista de teste para os amortecedores do carro.

O que me incomoda neste tipo de medida é que, normalmente, é a única chance em anos de se corrigir um problema. Quando terminarem o trabalho, é nesse asfalto que vamos rodar pelos próximos cinco, oito anos. Então precisa ficar perfeito.

Mas como esse tipo de coisa é extremamente rara por aqui (quem já viu uma calçada com pedras portuguesas perfeitamente ajustadas ou de cimento sem remendos ou buracos?), os bueiros são tão fundos que podem causar um dano sério na suspensão dos carros ou mesmo furar um pneu.

O trabalho todo já deve ser muito caro e absolutamente necessário. Será que não era possível gastar um pouquinho a mais e nivelar os bueiros para ficar perfeito?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Caldeirão

Fui enviado pelo meu trabalho para a Campus Party em São Paulo para recolher e compilar ideias sobre mídias sociais. Não tinha muita noção de como seria isso mas, pelo teor das palestras, vi que poderia ser muito interessante.

No primeiro dia, pude assistir a uma palestra/debate de Al Gore e Tim Berners-Lee, que falaram sobre a horizontalização do processo comunicacional que a internet proporcionou e da incapacidade dos governos e legislações de acompanharem as mudanças na velocidade da rede. Eles chamaram a atenção para a tentativa de grandes grupos de dominarem a internet e da necessidade de se mantê-la livre de controles e amarras. Claro, Gore não perdeu a oportunidade de chamar a atenção para a questão ambiental e como a internet pode ajudar a causa.

Vi André Forastieri falar muita besteira sobre imprensa e mídias digitais numa discussão sobre confiabilidade em redes sociais. Assisti também a dois debates políticos, um de Marina Silva, que eu continuo considerando uma pessoa incoerente com sua história embora a admire bastante, e outra dos coordenadores de mídias sociais das campanhas dos três principais candidatos à presidência ano passado. Uma delas, Soninha Francine, não se saiu muito bem ao meu ver, principalmente quando disse que o SBT inventou o episódio da bolinha de papel do Serra e a manada foi atrás. Falaram sobre liberdade de imprensa e contra a censura prévia imposta ao Estadão durante o caso Sarney, algo com que eu concordo.

Paulo Bernardo, Ministro das Comunicações, falou sobre as perspectivas da universalização da internet no Brasil com ideias que me pareceram deveras interessantes, embora eu não saiba se vão sair do papel.

Em torno disso tudo, milhares de pós-adolescentes acampados vendo e ouvindo tudo atentamente, analisando, participando, perguntando e, com certeza, pensando como carreiras estão ligadas ao futuro do país.

Quem tiver oportunidade de visitar a Campus Party ano que vem, deve aproveitá-la. Não sei se em algum outro lugar fervilham tantas ideias ao mesmo tempo.

Atualização em 21/1: Foram distribuídas máscaras com o rosto de Julian Assange em protesto contra a perseguição ao fundador do WikiLeaks.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Recuperada?

Há dois anos e meio escrevi um artigo sobre Amy Winehouse e seus, digamos assim, hábitos extravagantes. Eis que ontem fui surpreendido por uma cantora vigorosa, com uma voz forte e novas composições no show que fez no HSBC Arena, aqui no Rio.

Amy está razoavelmente recuperada da dependência das drogas, sabe-se lá por quanto tempo, mas fico feliz em ver que, ao que tudo indica, eu estava errado ao dizer que ela não duraria muito devido ao seu comportamento autodestrutivo.

Apesar de curto, o show foi ótimo. Como esperado, ela esqueceu a letra de uma música no começo e teve uma crise de riso que atrapalhou a primeira estrofe da canção. Mas o público, em vez de se irritar, foi ao delírio, pois essa é uma das marcas registradas da cantora.

Bem, enquanto aguardamos o terceiro disco aproveito para recomendar para quem tiver uma chance, assistir a seu show. Afinal, nunca se sabe.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Fórmula 1 e meio-ambiente

A Federação Internacional do Automóvel acenou para uma Fórmula 1 mais verde em 2013. Depois de desistir do uso de biocombustíveis misturados à gasolina devido à possibilidade de escassez de alimentos – um erro de julgamento –, a FIA aposta numa redução do consumo de combustível pelos motores.

Durante muito tempo, a categoria foi atacada por entidades como o Greenpeace por gerar uma quantidade excessiva de poluentes, considerando os testes, as corridas e, principalmente, as viagens e os deslocamentos. O que os ecologistas falham em considerar é que qualquer avanço tecnológico gerado nos carros de corrida é subsequentemente transmitido para os carros de passeio.

As novas regras dos motores devem garantir uma redução de 35% no consumo de combustível com possíveis motores turbo e sistemas de recuperação de energia cinética (kers). Se esse avanço na eficiência energética chegar à indústria automotiva, pode-se imaginar a diferença que isso vai fazer no meio-ambiente.

Às vezes falta a essas organizações distanciamento suficiente para ter a capacidade de se enxergar o quadro completo.