quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Coerência no voto

Marina diz que, se eleita, terá uma nova forma de fazer política, chamando especialistas de todos os partidos nas devidas áreas para ter o melhor dos mundos. Isso não é somente uma utopia, mas é de uma ingenuidade infantil. Política não é como administrar uma empresa, é necessário fazer acordos.

Dois presidentes tentaram governar sem alianças: Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello. Não preciso dizer aqui o que aconteceu com eles. Tanto que o próprio Beto Albuquerque, seu candidato a vice, falou que ninguém governa sem o PMDB. O problema é que o PMDB tem várias vertentes: estamos falando do Simon ou do Sarney? Dos dois, evidentemente.


Então, se você vai votar na Marina, faça-lhe um favor: vote nos candidatos do PSB para deputado federal e senador. Se você quer acabar com a politicagem e com o toma-lá-dá-cá, seja coerente no seu voto.


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A consequência eleitoral da morte de Eduardo Campos

Mal morreu Eduardo Campos e, como era de se esperar, começaram as especulações sobre o futuro destas eleições. O cenário natural seria a indicação de Marina Silva para a vaga, com algum quadro forte do PSB na vice-presidência, já que Marina representa muito mais a Rede Sustentabilidade do que seu partido. E é justamente por isso que sua candidatura pode gorar: se eleita, a probabilidade dela sair do PSB efetivamente fundar a Rede é enorme, pois o partido ganharia filiados num estalar de dedos. Afinal, o que não faltam são oportunistas e adesistas.

Primeiramente, ressalto que a imprensa, como sempre, adota um tom sensacionalista e apelativo para tratar da morte de Campos, mas cumpre seu papel e não se desvia do foco, que é a eleição presidencial. Depois de morto, o socialista passou a ser considerado o melhor candidato, uma verdadeira terceira via, a opção à mesmice do PT e do PSDB. Claro, morto não tem defeitos.

Mas, vamos aos cenários: candidata, Marina deve tirar mais votos de Aécio do que de Dilma, pois o eleitorado da petista é mais consolidado, com pouca chance de mudança; nesse ponto, a rejeição da Presidente atua a seu favor. Já os votos do tucano são, em grande medida, "votos contra", ou seja, de pessoas interessadas, primeiramente, em tirar o PT do poder. Nesse cenário, há duas possibilidades: Marina passa Aécio e disputa o segundo turno com grandes chances de vitória, visto que deve herdar a maioria absoluta dos votos do tucano para o pleito final, ou o segundo turno ocorre como previsto anteriormente, mas com Aécio enfraquecido pela divisão de seus votos com Marina, facilitando a vida de Dilma Roussef.

No segundo cenário, o PSB entra com outro candidato. Nesse caso, não há tempo de construir uma imagem presidenciável, não importa quem seja, e a eleição se decide no primeiro turno totalmente polarizada, provavelmente com vitória de Dilma. O mesmo acontece caso o PSB faça uma opção fisiologista e troque apoio por cargos num eventual segundo mandato da petista; aí a vitória deve ser esmagadora. Caso o PSB penda para o lado tucano, o que é pouco provável, a eleição segue indefinida, mas ainda com vantagem de Dilma.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O voto no mal menor

Não há boas opções para a Presidência da República ou para o Governo do Rio de Janeiro. É simples assim. As escolhas deverão ser baseadas no menor prejuízo, com vistas a 2018, torcendo para novos atores surgirem no cenário político nacional.

Dilma Roussef conseguiu decepcionar até adversários com sua incapacidade administrativa e aparelhou o Estado em todos os níveis. Mas o PT lançou um excelente programa de distribuição de renda e manteve o patrimônio nacional, freando as privatizações. Reconstruiu a Petrobras e agora está ajudando a colocar a empresa em maus lençóis. Isso sem falar no mensalão.

Pesam contra Aécio Neves acusações de manipular a imprensa de Minas Gerais, acusações atribuídas a sua ex-mulher, Andréa Falcão e por ela desmentidas, problemas com aeroportos, o fato de o PSDB ter vendido parte do patrimônio nacional e ainda deixar o Brasil com uma dívida de US$30 bilhões para o governo Lula pagar, acusações de desvio de verbas na privatização, entre outras.

Eduardo Campos, o azarão, vem sendo chamado de representante do neocoronelismo e tem Marina Silva como vice, por mais incoerente que isso seja, que é também uma defensora da privatização, embora ninguém se dê conta disso.

Para o Rio de Janeiro, fico com a imagem que Tico Santa Cruz, que colocava os candidatos como Freddy Krueger, Darth Vader, Jason e o Curinga: fica difícil até escolher o mal menor. Sobre todos pesam acusações graves, capazes de anular a eleição caso haja alguma condenação. Honestamente não sei nem por qual começar, deixo a cargo dos leitores buscar acusações sobre Crivella, Garotinho, Lindbergh e Pezão.



Enfim, o eleitor vai precisar pesar bem seus valores para escolher seus candidatos. E se lembrar de que o voto nulo não anula uma eleição, mas delega sua escolha para os demais.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Salada política

Romário passou todo o seu mandato criticando a forma como a Copa do Mundo estava sendo conduzida. Agora ele é aliado do PT e deve perder seus eleitores que o consideravam uma alternativa à mesmice. O PSoL tinha um candidato à presidência que vinha conquistando simpatia dos eleitores. Agora ele é candidato ao governo do Amapá e, em seu lugar, se apresentou a infame Luciana Genro. Cesar Maia era candidato ao governo do Rio, para alguns, se apresentando como uma opção menos ruim do que os quatro líderes nas pesquisas. Agora acha que pode fazer frente a Romário e decidiu candidatar-se ao Senado com o apoio do PMDB de Luiz Fernando Pezão e de seu desafeto Eduardo Paes. Mas Maia vai apoiar Aécio Neves para a presidência, e não Dilma, candidata oficialmente apoiada pelo partido dominante da cena fluminense.

A política é assim: uma salada mista em que a promiscuidade não poupa quase ninguém. Em época de eleição, a coisa piora, pois a disputa é por tempo de televisão, subidas em palanques, apoios e imagem. Uma vez formado o cenário, os partidos se recombinam pela maioria no Congresso, por ministérios e verba para os projetos de seus deputados.

Isso significa que, por mais que tenhamos uma radiografia do momento político atual, o futuro não é totalmente previsível, pois depende de barganhas, muitas vezes financeiras, e acordos. E os políticos, se querem ter alguma chance nas eleições, precisam se juntar a adversários e tomar algumas atitudes impopulares.

Não gostou? Existem botões de branco e nulo na urna eletrônica. Mas aí só vão valer as opiniões dos outros e você, achando que protestou, vai ter ficado calado.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Russia e China mais próximos, ganha o meio ambiente?

Os americanos e europeus cometem, repetidamente, erros estratégicos em relação à geopolítica global. A Europa depende fortemente do gás russo, então precisa contemporizar qualquer absurdo que império de Pútin cometa, mas seguiu a diretriz global de isolar a república devido a seu posicionamento (leia-se "intervenção") em relação à crise da Ucrânia, o que produziu um grave efeito colateral.

No dia 21 de maio, Rússia e China assinaram um acordo de torno de 400 bilhões de dólares por 30 anos de fornecimento de 38 bilhões de metros cúbicos de gás natural por ano para os chineses. Este valor foi considerado baixo por especialistas, mas Pútin precisava buscar opções para fugir do isolamento e acabou por abraçar o maior rival do Ocidente: a China.

Bom para o país oriental, que passa a contar com uma grande fonte de energia, ruim para Estados Unidos e Europa, que fortaleceram seu maior adversário. Mas existe ainda um aspecto que ninguém considerou: a possibilidade da China estar começando a substituir sua principal fonte de energia e uma das mais poluentes que existem, o carvão, pelo gás natural, combustível infinitamente mais limpo. Ganha o meio ambiente.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Olimpíadas: a oportunidade perdida

Quando o Rio de Janeiro foi selecionado para sediar as olimpíadas de 2016, a cidade comemorou muito. O Brasil estava em ascensão e havia muito tempo para que todas as obras fossem colocadas em prática. Isso foi em 2009, dois anos depois do Panamericano, que foi um sucesso, e da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo deste ano.

Havia muito trabalho a ser feito: a construção do parque olímpico, as instalações em Deodoro, a despoluição da Baía de Guanabara, obras no setor hoteleiro e transporte. Tudo bem, em sete anos, a cidade era perfeitamente capaz de fazer isso tudo.

Outro dia, passei pelo parque olímpico do antigo autódromo. Tudo na mesma, com placas anunciando futuras instalações para os jogos. Hoje, um amigo me mandou esta matéria do NYT sobre a poluição na Baía da Guanabara, nada que eu já não soubesse, mas com uma visão dos estadunidenses. "Uma latrina", segundo um biólogo entrevistado pelo jornal.

Eduardo Paes, o prefeito, diz que tudo será feito a tempo, mas se vê em seu rosto que ele não crê em suas próprias palavras. Aldo Rebelo, o ministro dos esportes, diz o mesmo e pior: vê-se em seu semblante que ele acredita no que fala! Ufanista exacerbado, por mais pleonástico que isso seja, Aldo poderia tristemente ser uma personagem de Lima Barreto.

Não sou futurólogo nem fatalista, mas a minha opinião é a de que o Rio de Janeiro não sediará as próximas olimpíadas. Não há tempo hábil para que as construções sejam feitas com segurança. E, acima de tudo, a cidade não merece um evento como esse.

Atualização em 19/5: Acabo de me deparar com esta matéria. O que dizer sobre isso?

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Rica não entendeu direito

Rica Perrone defende a Copa do Mundo. Ele é um blogueiro famoso, não obscuro como eu, ligado ao Globo Esporte e com apoio de Furnas, empresa estatal. Ele não só defende a Copa, mas defende o direito de defendê-la, de curti-la sem vergonha.

Também acho isso. Mas o que Rica não entendeu foi que os protestos não são somente sobre a Copa:

"Deve-se odiar a Copa, a Rede Globo e o que mais as minorias barulhentas determinarem.  Acreditem, senhores! Para estes, não fossem estádios, estariamos cheios de hospitais hoje sem nenhum tipo de problema com corrupção.  Afinal, a culpa é da Copa", diz, ironicamente.

Ninguém disse que se não houvesse Copa, os problemas da saúde e da corrupção no Brasil estariam solucionados. A Copa, com tudo o que foi gasto, esfregou a corrupção na nossa cara mais do que nunca, como já havia dito o deputado Romário. A grande revolta é: se há dinheiro para isso, por que não constroem hospitais, escolas, estradas, ferrovias, não melhoram os salários dos professores, não cobram menos nas passagens, e por aí vai. Se há tanto dinheiro para se fazerem estádios, alguns que se tornarão elefantes brancos, como em Manaus ou Fortaleza, por que a vida do brasileiro não melhora? Por que o serviço público é tão ruim?


Rica, a revolta existe e não é de uma minoria. Basta ler isso, ou isso, ou isso para saber. Basta andar pelas ruas das cidades-sede e ver a diferença entre esta Copa e as anteriores: não há ruas enfeitadas, não há muros ou ruas pintadas, não há bandeirinhas penduradas.

O povo brasileiro merece mais do que estádios e jogos de uma Copa cujos ingressos ele mesmo não tem dinheiro para pagar.