segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Portugüês

Sou uma das poucas pessoas que está lamentando o fim do trema na reforma ortográfica que entra em vigor no dia 1 de janeiro. Aliás, não somente a queda do trema, mas diversas alterações nas regras de acentuação, hifenização e da própria ortografia em si.

A língua portuguesa é, até certo ponto, fonética. O trema existe para se indicar a pronúncia do u depois do q ou do g; verbos na terceira pessoa do plural no presente do indicativo também vão perder acentos que ajudam na pronúncia, como lêem ou vêem. Isso sem falar nos acentos diferenciais como em pára e pêlo, que também se vão.

Para mim, o grande problema é que não é fácil enxergar uma lógica nas novas regras. Por exemplo, algumas palavras vão perder o hífen e outras vão ganhar, mas as poucas que ficam como estão as exceções dessas regras: arquiinimigo vira arqui-inimigo, manda-chuva vira mandachuva, mas guarda-chuva permanece como está. Por quê? Não compreendi.

E se nós, brasileiros, estamos incomodados com nos tornarmos analfabetos da noite para o dia, imaginem como estão os portugueses. Enquanto a reforma mexe com 0,5% das palavras no Brasil, 1,6% dos vocábulos dos demais países lusófonos será alterado. Nós teremos que reaprender a escrever cerca de 550 palavras e eles, cerca de 1.760.

Agora pergunto: quem está feliz com isso? Por aqui, vou tentar me adequar às novas regras, mas peço perdão antecipado por possíveis deslizes. Afinal, realfabetizar-se leva algum tempo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Paus e pedras

A frase virou chavão, mas a cada vez que é proferida, gera um certo calafrio naqueles que ouvem: "Eu não sei com que armas se lutará a Terceira Guerra Mundial, mas a Quarta será com paus e pedras". Albert Einstein tinha perfeita noção do potencial destrutivo do ser humano. Hoje, estamos na iminência de uma guerra de proporções catastróficas.

Depois dos ataques terroristas a Mumbai, a tensão entre Índia e Paquistão cresceu. Inimigos com motivações religiosas desde a ocupação inglesa, os dois países se separaram contra a vontade de Gahdhi em 1947 e de lá para cá já travaram quatro guerras, três concernindo à região da Caxemira, todas com armamento convencional. Entretanto, desde 1998, ambos os países passaram a ser considerados potências nucleares após testes realizados em seus respectivos territórios.

Se estourar mais uma guerra na região, qual é o limite da potência das armas que os países pretendem adotar? Se o Paquistão utilizar uma bomba atômica, como a Índia vai revidar? Que nações vão aderir e de que lado vão ficar? Diferentemente de soviéticos e estadunidenses, os princípios da doutrina MAD, pela qual nenhum lado ataca temendo a aniquilação total de ambos, não parecem prevalecer neste conflito, pois quando o fanatismo religioso está presente, nada parece segurar os homens.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Calotazo

Parece que dá muito trabalho ser um líder regional e tentar não impor sua política econômica aos países vizinhos. Alguns dizem que o Brasil pratica uma modalidade de imperialismo, mas não há aqui uma exploração descabida, como fazem os Estados Unidos com o México e outros países. Existe um movimento de integração regional com investimentos de infra-estrutura em diversos países que teriam muita dificuldade em se manter sem uma economia forte como a nossa os apoiando.

Dessa forma, o Brasil é um grande credor de seus vizinhos, que, quando precisam fazer grandes obras, muitas vezes financiam-nas com dinheiro do BNDES. Equador, Paraguai, Bolívia e Venezuela simplesmente decidiram que os contratos de endividamento foram abusivos e não querem mais pagar. Sinceramente, quero ver mais para frente, quando precisarem de crédito, para quem vão pedir. Até porque, qualquer coisa costuma ser melhor do que os juros do FMI.

O Brasil precisa endurecer o discurso, mas deve fazer de tal forma que não crie inimigos. Não queremos fazer como nossos vizinhos do Norte que derrubam governos e desviam seus recursos para seu próprio enriquecimento. Muito pelo contrário: não foi somente uma vez que impedimos golpes de estado por aqui pelo subcontinente.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Autobahn

Parece que tem gente que acha engraçado ter carros capotando na Lagoa e acidente de proporções como os que já vimos em vários pontos do Rio de Janeiro. A partir de ontem, todos os pardais do Rio de Janeiro deixaram de multar motoristas por excesso de velocidade e por cruzar o sinal vermelho entre as 22h e as 6h. A decisão foi feita com a desculpa de se aumentar a segurança dos motoristas, já que a criminalidade no trânsito é grande nesse horário.

Isso não é apenas um caso de insensatez: é um populismo perigoso, um oba-oba que dá a impressão de que os motoristas da night, muitas vezes já bêbados, podem fazer o que quiserem. Até porque a Lei Seca só pegou durante algum tempo, mas também já afrouxou.

Interromper as multas à noite pode diminuir o problema dos assaltos, mas cria outro, que é o dos acidentes. Não seria mais prudente aumentar os limites de velocidade para alguns trechos, principalmente nas lombadas eletrônicas? Não seria melhor deixar de multar quem atravessasse o sinal vermelho, desde que em baixa velocidade?