sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ana/Mia

Esta semana foi divulgada a morte da modelo Isabelle Caro por anorexia nervosa. Já há algum tempo, eu recebi um vídeo e fui pesquisar sobre distúrbios alimentares. Descobri que pessoas com anorexia e bulimia não se consideram doentes, mas acham que têm um estilo de vida. Elas apelidam seus distúrbios como Ana (anorexia) e Mia (bulimia), personificam as doenças e as consideram suas melhores amigas.


Fiz uma pesquisa na internet pelos termos para descobrir a gravidade da situação. Encontrei inúmeros blogs através dos quais suas autoras, maioria de garotas adolescentes, dividem suas experiências, contam sua trajetória, demonstram sua insatisfação com seu corpo e, muito frequentemente, ensinam técnicas para passar dias sem comer.

Utilizam termos como LF (low food), para comer o mínimo possivel e coisas muito leves, ou NF (no food), um dia 0 cal. Mostram como enganar o estômago, o cérebro, os amigos, os pais. Ensinam a "miar" (vomitar) após sucumbirem a sua compulsão (comer?), tiram dúvidas das internautas e apoiam umas as outras.

Escrevo este texto como um alerta aos pais que têm filhas (principalmente, mas homens também podem sofrer disso) com idades entre dez e vinte anos que aparentam levar uma vida normal, mas que parecem preocupadas demais com seu corpo. Não se iludam, elas sabem como enganar todos a sua volta e contam com uma rede ilimitada para apoiá-las.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Compra coletiva

A febre da compra coletiva tomou conta da internet de tal forma que os sites com essa finalidade se multiplicaram em pouco tempo. Eu mesmo já devo ter feito algumas dezenas de compras em uns cinco ou seis sites diferentes.

Mas as promoções, às vezes não são tão boas quanto anunciadas. É aconselhável verificar se o preço original estampado na página é realmente o preço que se cobra no restaurante ou loja e se o produto é o mesmo que se vende para os outros consumidores. É muito comum, por exemplo, o prato ou a sobremesa servidos serem menores do que os originais.

Algumas promoções que envolvem viagem não deixam muito claro o preço final a ser pago, visto que o desconto costuma ser somente na entrada. É possível que o consumidor se confunda e acabe pagando muito mais do que planejava. E alguns sites criam muitos problemas para devolver o dinheiro caso o consumidor desista da conta. Neste caso, recomendo o uso do portal Reclame Aqui, ao qual normalmente as empresas respondem.

Outra coisa que me surpreendeu foi que hoje eu recebi um anúncio de uma tabacaria, vendendo charutos e café. Que eu saiba, a propaganda de tabaco é limitada e não está permitida em sites da internet, muito menos a sua venda. Acho até que não fizeram de má-fé: muita gente se esquece que charuto e cigarros estão submetidos à mesma legislação. De qualquer maneira, enviei um email para eles sugerindo que tirassem a promoção do ar para não correrem o risco de sofrer ações legais.

De qualquer forma, a inciciativa é ótima e pode gerar uma bela economia. Mas, como qualquer outra ferramenta, é necessário saber usar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O golpe do momento

Cada vez mais eu constato que o ser humano precisa arrumar novos mitos em que acreditar a qualquer custo. De tempos em tempos, algum produto mágico aparece, seja um elixir, uma fonte da juventude, uma dieta ou algo que vai deixar seu corpo torneado sem esforço.

O golpe do momento se chama Power Balance. O produto em si é um holograma com um logotipo tosco. Nem é um holograma de alta tecnologia, parece com aqueles estampados nos cartões de crédito. É vendido em uma pulseira de plástico ou silicone, como os relógios infantis.

A explicação? "A pulseira POWER BALANCE® contém embutidos dois hologramas quânticos de Mylar programados com frequências que interagem naturalmente com o campo electromagnético do corpo humano". Seus benefícios "incluem melhoria de equilíbrio, o aumento da força, uma maior amplitude de movimentos e um bem-estar geral".

Como é? Holograma quântico? Quântico: "Diz-se de qualquer sistema ou fenômeno quantificado". Campo eletromagnético do corpo humano?

Não caiam nesse golpe. Enquanto as pessoas continuarem buscando soluções mágicas para seus problemas sempre haverá quem promete uma solução.

Atualização em 5/1/2011: Os próprios fabricantes admitiram que a pulseira é uma farsa e vão devolver o dinheiro. Agora eu vi um anúncio no metrô vendendo um neutralizador de eletromagnetismo, nos mesmos moldes!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Schumacher x Prost

O que os dois supercampeões têm em comum e o que têm de diferente? Saindo do blablablá habitual de que a Fórmula Um de hoje é diferente da de outrora, ambos fizeram a mesma escolha: abandonar o esporte por um tempo para tentar uma volta triunfal.

As condições eram parecidas: em 1993, a Williams tinha um carro que, como disse Ayrton Senna, estava em outro planeta em relação aos demais. O mediano Nigel Mansell fora campeão no ano anterior fazendo praticamente todas as pole-positions e ganhando mais da metade das corridas com um carro que corria sozinho. Schumacher entrou para uma equipe campeã, que colocou os medianos Jenson Button e Rubens Barrichello em primeiro e terceiro lugar no campeonato com um carro que começou a temporada muito acima dos demais que, aos poucos, foram alcançando-o.

Prost foi tetracampeão com aquele carro e decidiu se aposentar de vez. Ainda assim, a genialidade era visível na direção do francês. E o que aconteceu com Schumi? Suas atuações medíocres neste ano fizeram dele a decepção da temporada. Ficou atrás de seu companheiro de equipe (bem atrás, diga-se de passagem) e encerrou o ano com um acidente ridículo que poderia ter sido muito grave.

Ele errou ao voltar? Acho que não. Talvez ele realmente não seja mais tão bom quanto antes, mas como saber disso sem entrar na pista? Que melhor equipe do que a campeã para seu retorno? Discordo de Mika Häkkinen, que o considera um ex-herói trágico. Não vai ser uma sequência ruim que vai lhe tirar o legado de sete títulos mundiais.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Liberdade de imprensa: uma proposta cínica

Quem aqui ouviu falar sobre Maria Rita Kehl? Uma respeitada psicanalista, ex-colunista do Estado de São Paulo que resolveu escrever o que pensa. Seu artigo pode ser sintetizado por uma frase acerca dos emails veiculados pelas ditas elites na internet: "O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos". Resultado? A jornalista foi demitida do jornal, o mesmo jornal que considera que a liberdade de imprensa está ameaçada.

Num episódio oposto, o senador tucano eleito por São Paulo recusou-se a dar entrevista para veículos de comunicação que divergiam de sua opinião política por serem ligados ao PT.


Muito já foi dito e demonstrado sobre a imprensa brasileira. Sabemos que poucas famílias dominam a comunicação no Brasil (quatro segundo a revista CartaCapital e nove ou dez segundo Lula) e que sua orientação política sempre foi ligada à direita, com todas as metamorfoses que a direita sofreu (para entender o que isso significa, vale ler Anthony Giddens – Para além da direita e da esquerda – e Norberto Bobbio – Direita e esquerda). Então, que liberdade é essa que mostra apenas um dos lados, que não permite um equilíbrio entre ideologias, que dá voz para apenas quatro (ou nove ou dez) famílias brasileiras e demite quem ousa falar expor outras ideias?

Sou a favor da liberdade de imprensa – antes que se diga o contrário – ampla e irrestrita. Em vez dos jornalistas seguirem a opinião e a doutrina de seus editores, a eles deve ser permitido falar sob seu próprio ponto de vista sem que seus empregos estejam em risco. Defendo que, para se demitir um jornalista, seja necessário abrir uma sindicância com membros internos e externos ao veículo para se ter certeza de que essa demissão não teve motivação política ou, como disse Maria Rita Kehl, originado-se a partir de um "delito de opinião".

Assim todos os pontos de vista serão expostos para todas as pessoas por todos os meios. Assim os jornalistas poderão gozar dessa liberdade de imprensa da qual somente os donos dos veículos gozam. Faz sentido?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

1989

Lula tem aparelho de som. Collor não. Lula odeia negros e quis abortar sua filha. Collor massacrou Lula no último debate de candidatos à Presidência da República. Dilma mata criancinhas. Dilma é terrorista. Dilma é a favor do aborto.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Ingênuo fui eu por achar que o Brasil havia superado os métodos sujos que a grande imprensa, o grupo apelidado por GAFE (Globo, Abril, Folha e Estado), perceberia que não há mais clima para esse tipo de difamação na democracia que o Brasil conquistou nos últimos vinte anos.

Hoje li um artigo do Mainardi dizendo que Dilma transformará o Brasil numa loja falida de artigos de R$1,99. O Globo, semana passada, mais uma vez, usou dois pesos e duas medidas sobre o casamento homossexual. Quando foi Dilma a declarar, o jornal publicou que ela era contra o casamento gay, mas a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo, "que ela diz ser diferente". Quando Serra disse a mesma coisa, o Globo simplesmente explicou a diferença.

A central de boatos, desmentidos com provas, circula na internet. Quem as divulga são os eleitores de Serra – esses, muitas vezes, sem saber que se tratam de mentiras. Esses boatos são gerados por uma direita fascista, velha conhecida do nosso país, que apoiou o golpe militar em todas as suas fases.

E o que dizer do fiasco da bola de papel? Se a atitude dos mata-mosquitos demitidos por Serra quando era ministro foi errada ao tentar agredir o candidato, não há nem questão, é evidente. Mas fazer uma tomografia por causa de uma bola de papel após um telefonema? E a Globo tentando mostrar um rolo de fita adesiva invisível durante sete minutos, com o depoimento de um perito, no mínimo, suspeito? No mesmo dia, usou 18 segundos para falar do recorde de baixa do desemprego no país.

E vem a imprensa, dizer que teme por sua liberdade. A mesma liberdade que elegeu Collor baseada em factóides e que tenta retirar alguns pontos de Dilma na mesma moeda. Sorte que hoje existe a internet e já não é tão fácil inventar histórias. Essa é a verdadeira liberdade de imprensa.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O PSOL e o Groucho-Marxismo

Todos nós que vimos os debates presidenciais do primeiro turno percebemos a falta de seriedade nas propostas do candidato do PSOL Plínio de Arruda Sampaio. Suas palavras propunham uma total subversão da ordem, ignorando preceitos constitucionais e pregando medidas que só seriam possíveis através de um levante armado.

Deu graça aos debates, isso é fato, mas não a mesma graça que deu, por exemplo, Marina Silva, com um discurso ponderado e coerente. Plínio deu a graça do palhaço, assim como Tiririca – mais bem sucedido –, fazendo um papel ridículo e professando disparates impraticáveis diante de milhões de pessoas.

O Partido Socialismo e Liberdade surgiu em 2004 de uma dissidência do Partido dos Trabalhadores que achava seu governo muito à direita do esperado, seguindo a cartilha neoliberal cartesianamente ditada por Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula.

Muitos de seus membros haviam sido expulsos do PT por votar de forma diversa à orientação do partido, o que é considerado uma traição na política e iniciaram uma feroz oposição, à esquerda do PT. Expoente do novo PSOL, Heloísa Helena candidatou-se à Presidência da República em 2006, obtendo uma votação expressiva.

O partido pretendia ser uma alternativa, composto por nomes sérios e consagrados, como os de Chico Alencar e Luciana Genro, para citar dois. Mas a escolha de seu candidato à Presidência em 2010 deixou claro que não tem a intenção de crescer, de apresentar uma proposta séria, uma opção à esquerda para o país.

É uma nova modalidade de marxismo: o Groucho-Marxismo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A imprensa oscila para baixo

Uma coisa que eu reparo em todas as épocas de eleições é que os jornalistas não sabem o significado da palavra oscilar. Oscilar é realizar o movimento de pêndulo, ou sofrer variações em sentidos opostos.

Em todas as pesquisas, quando um candidato sobe ou desce, decreta-se: oscilou para cima; oscilou para baixo... a intenção de voto não oscila para cima ou para baixo. Quando ela oscila, move-se em ambos os sentidos com maior ou menor intensidade.

Vamos simplificar as coisas? Ganhou pontos: subiu. Perdeu pontos: desceu. Não é melhor assim?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Como funciona o voto proporcional

Uma coisa que confunde os eleitores brasileiros é o voto proporcional. Existem três cargos legislativos que utilizam esse sistema para definir os eleitos: deputado federal, deputado estadual e vereador. O voto para senador é majoritário, ou seja, ganha quem tem mais votos.

Talvez essa seja a grande dificuldade do brasileiro: entender por que um deputado mais votado pode ficar de fora, enquanto um menos votado acaba eleito. A explicação é simples, mas vai de encontro à cultura política do país.

Em primeiro lugar, o eleitor não vota no candidato. Vota no partido ou coligação. Ou seja, a primeira coisa que é feita com os votos dos eleitores é a soma de todos os votos que foram para o partido ou coligação. Esses total contempla os votos nas legendas e os votos nos candidatos. Então descobre-se quantos deputados ou vereadores o partido ou coligação elegeu a partir do quociente eleitoral, ou seja, o número total de votos válidos dividido pelo número total de vagas. Isso significa que um deputado pode ser muito votado e, ainda assim, não entrar porque seu partido não recebeu o número suficiente de votos.

Em seguida, verifica-se, em cada partido ou coligação, a colocação dos deputados, do mais para o menos votado. Se o partido ou coligação tem direito a seis vagas a partir do número total de votos recebidos, elegem-se seis candidatos, mesmo que o último deles tenha poucos votos.

Este sistema chama-se "lista aberta", em que o eleitor faz duas escolhas em apenas um voto: qual o partido que deseja que o represente e, dentro deste partido, qual o candidato que condiz com sua opinião.

Para mim, este ainda é o melhor sistema. O que falta é explicar e educar o povo, que acaba por votar em um candidato e eleger outro sem saber que, na verdade, está votando num partido.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O porquê do voto obrigatório

Em época de eleições, é comum uma questão voltar à mesa, instigada por uma suposta incapacidade de escolha da população brasileira: o voto obrigatório. O número de países que adotam esta prática não passa de trinta e algumas democracias consolidadas jamais cogitaram esta hipótese. Então por que no Brasil todos em idade eleitoral são, necessariamente, eleitores perante a lei?

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A primeira questão é cultural: votar não é um direito, é um dever. E não existe a opção para o brasileiro de delegar seu voto como nas assembleias de condomínio. Porque eximir-se de votar é aceitar passivamente a opinião alheia. Mas, e daí? Cada qual é responsável pelas escolhas que faz, certo?

O voto no Brasil deve ser obrigatório, sim, por outros motivos. O ato de votar tem um custo, que pode envolver um dia de trabalho perdido (ou algumas horas), deslocamento, busca de informação sobre candidatos, a obrigação de se ter uma opinião. E esse custo não é igual para todos os eleitores: aqueles que moram em centros urbanos ou muito próximos a sua seção eleitoral; aqueles que são politizados e não precisam de grande esforço para escolher seu candidato; aqueles que não trabalham nos fins de semana e ficam com o domingo livre para gastar meia hora para ir até as urnas – esses estariam sempre se fazendo representar.

Já os demais, que somam grande parte da população brasileira, e que nem sempre têm consciência de que seu voto faz, de fato, diferença, poderiam optar por não votar. Não é que o voto de uma pessoa possa mudar uma eleição, mas indica todo o comportamento de uma classe, significando que, como ele, muitos outros fizeram escolha semelhante.

E, no final, apenas aquela minoria teria voz, defendendo seus interesses (ainda que fossem coletivos) e calando um sem-número de pessoas que estariam cada vez mais longe do processo democrático e menos interessadas nas consequências de suas escolhas políticas.

domingo, 25 de julho de 2010

Massa = Barrichello?

Eu não sei porque ainda perco meu tempo assistindo às corridas de Fórmula 1. O hábito, criado tão cedo na minha infância sobreviveu à tragédia da morte do Ayrton Senna e aos dez anos vendo o Schumacher passear nos autódromos sem concorrentes a sua altura.

Na era Schumacher, precisamos ver algumas vezes o Barrichello, duas vezes vice-campeão, ceder a primeira posição para o alemão, que disputava efetivamente o campeonato. Criticamos o piloto brasileiro até cansarmos, o chamamos de frouxo, covarde, escudeiro, medíocre e o que mais pudermos lembrar. Schumi, naturalmente, foi campeão em todas essas oportunidades e, pensando bem, fazia sentido para a Ferrari dar essa ordem.

Mas o que vimos hoje foi diferente. Foi um novo tipo de humilhação em todos os sentidos. Ouvimos com antecedência o boxe da Ferrari dar a ordem para Felipe Massa em mensagem cifrada ("Fernando is faster than you, can you confirm you understood that message? Fernando está mais rapido que você, você pode confirmar que compreendeu esta mensagem?") e apenas aguardamos que o brasileiro entregasse a vitória para o espanhol.

Por que isso é tão mais humilhante? Para começar, porque Massa não é Barrichello. Massa perdeu um campeonato por uma curva, outro por erros da Ferrari e assim por diante. Dos que ainda não venceram e estão em atividade, certamente é o que mais merecia. Segundo porque Alonso tem pouquíssimas chances de vencer este campeonato, que está entre os pilotos da RBR e da McLaren com boa margem de vantagem.

Eu não esperava essa atitude de Massa. Sei que não estamos lá para saber o tipo de pressão que esses pilotos sofrem, não sabemos quanto podem ser manipulados a abrir mão daquilo que mais almejam em prol de sua equipe, de um capricho ou de um patrocinador (não nos esqueçamos de que o banco Santander, principal patrocinador da Ferrari, é espanhol). Como fã do esporte e torcedor, senti-me enganado.

Resta à FIA decidir o que fazer com esse resultado. A Ferrari já foi multada e o resultado está sob júdice. Espero que a Ferrari perca os pontos desta corrida e aprenda a disfarçar um pouco melhor suas falcatruas. Assim não nos sentiremos tão idiotas.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A política anti-diplomática israelense

Israel errou. O ataque ao comboio, supostamente de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, mostra que o país não entende o tempo em que vivemos, um tempo em que até um acordo com o Irã parece possível, mas em que uma solução para os conflitos palestino-israelenses mal sobrevive em sonhos.

É claro que o comboio desafiou a autoridade de Israel, que, não sem razão, estabeleceu um bloqueio à região. Por ali, são contrabandeadas armas, em grande parte iranianas, usadas pelo Hamas para atacar o país. Não custa lembrar que o Hamas subiu ao poder com o apoio da população e nada fez para desenvolver o território.

Também não sabemos exatamente o que carregavam os navios. Muitas vezes, as pessoas vão de boa-fé e acabam virando contrabandistas de armas sem nem terem ideia. E, ao que parece, a reação da tripulação foi bastante violenta contra os soldados israelenses.

Mas não importa se Israel tinha ou não direito de atacar o comboio. A atitude foi um tiro de misericórdia na diplomacia e na imagem internacional de Israel, que há muito estavam na UTI.

Atualização em 10/6: Está cada vez mais provado que o comboio nada tinha de pacifista, carregava terroristas violentos misturados, talvez, a pessoas de boa fé. Os soldados entraram armados com pistolas de paintball e foram recebidos com barras de ferro e gritos de "Voltem para Auschwitz", em referência ao campo de extermínio nazista. Mas a imprensa, na hora de dar razão a Israel, se cala. Não me admira que Israel não ligue para o que pensa o resto do mundo. Mas é necessário ao governo sionista fazer um curso intensivo de relações públicas e assessoria de imprensa. Caso contrário, ainda que joguem uma bomba atômica em Tel Aviv, a culpa acabará recaindo sobre os judeus.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Nuvem verde

A frase é de Magalhães Pinto: "Política é como uma nuvem: você olha e ela está de um jeito; olha de novo e ela já mudou". A nuvem da vez é verde: Fernando Gabeira está fechando uma aliança com os liberais PSDB e DEM e com o vira-casaca PPS para lançar sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro. Isso já era esperado, visto que, desde quando rompeu com o PT, essas têm sido as alianças do pré-candidato.

Ok, romper com o PT porque discorda de suas alianças, da ligação de Lula com Sarney, das atitudes de José Dirceu... tudo isso faz sentido. Mas dói ver Fernando Gabeira, bastião da ética (e falo isso sem ironia), lançar sua pré-candidatura ao lado de Zito, figura conhecida de Duque de Caxias que já respondeu a diversas acusações, mas nunca foi punido.

Mas em uma coisa não há novidade: continua muito difícil escolher um candidato no Rio de Janeiro.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Desculpe, Marina, mas eu tô de mal

A incoerência política não é privilégio de José Serra, que não sabe o que fazer com o Banco Central, ou de Lula, que agora joga com seus antigos inimigos políticos. Um partido que era tido como de esquerda passou, de uns anos para cá, a fazer alianças muito duvidosas.

Desde o rompimento de Fernando Gabeira com o PT – e com Lula –, o Partido Verde passou a fechar com antigos antagonistas como o PFL, hoje DEM, e o PSDB, adotando, juntamente com o PPS do ex-comunista Roberto Freire, um discurso de oposição.

Marina Silva, pré-candidata do partido à Presidência da República, no afã de desfazer sua imagem de esquerdista radical, declarou que apoiava, com ressalvas, as privatizações feitas por Fernando Henrique Cardoso e utilizou uma justificativa que ultrapassa os limites da ignorância política: se Lula não as reverteu, é porque as aprova também.

Afinal, não é tão simples reverter uma privatização, uma vez que as ações já foram para o mercado e já trocaram de mãos inúmeras vezes – como as da Vale, provavelmente uma das ressalvas de Marina. Além disso, uma atitude radical como essa poderia causar insegurança para o mercado financeiro.

Mas Marina é apenas uma coadjuvante do processo eleitoral. Um voto de protesto daqueles que são esquerda demais para votar em Serra, mas não votam em Dilma porque estão decepcionados com o governo petista. Nada que vá fazer muita diferença na linha da História.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Violência privada

Essa semana, um cliente do Bradesco, aposentado, morreu após ser baleado no rosto por um segurança. Ele tinha um marcapasso e, por isso, a porta giratória travou, impedindo sua entrada. Após uma discussão, o funcionário sacou sua arma e atirou no rosto do aposentado, matando-o e ferindo outro idoso que estava no local.

A regulamentação para a profissão de vigilante no Brasil é severa, exige cursos de reciclagem periódicos e um curso de formação que deve ensinar tanto a questão teórica como os procedimentos práticos. Mas por que, volta e meia, algum vigilante acaba vitimando um cidadão inocente?

Muitas dessas empresas de vigilância funcionam de forma irregular e não controlam a formação de seus profissionais, o que as empresas contratantes fingem não ver pois, dessa forma, os custos são inferiores do que os das empresas que atuam dentro da legalidade. Entretanto, o ônus é muito maior do que a economia.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Letras miúdas

Uma coisa que me irrita nas ditas "promoções" são as cláusulas de exclusão. São aquelas letrinhas miúdas que dizem "Promoção válida entre as 23h e 23h59 nos dias primos de lua cheia" que você só vai descobrir quando chegar no balcão.

Aconteceu comigo duas vezes no Giraffas com a promoção "Surpreenda Mastercard": da primeira vez, não vi que a promoção só era válida apenas após as 14h e fui com um amigo comprar um lanche na hora do almoço. Outro dia, liguei para o serviço de entregas deles e me informaram que somente aceitavam o voucher no balcão.

Fiquei me sentindo, com o perdão da palavra, um otário. Otário por achar que a rede fazia a promoção de boa-fé, e não que era um tipo de propaganda barata para ver a marca aparecer no site da Mastercard.

Mandei um email para o SAC deles e obtive a seguinte resposta:

"Agradecemos o seu contato com o Giraffas.
Pedimos desculpas pelos trastornos, porém consta a informação no site que a promoção não é aceita para o Giraffone.
Acreditamos que os clientes do Giraffas são o maior bem que a empresa possui e buscamos constantemente formas para melhor atendê-los."

No site realmente consta que a promoção não é aceita pelo Giraffone. Consta.

Atualização em 28/5: Recebi hoje o email de resposta do Giraffas:
Flávio Armony
Agradecemos o seu contato com o Giraffas.
Pedimos desculpas pelo ocorrido. Informamos que iremos estudar as suas sugestões para nossas próximas campanhas de marketing.
Acreditamos que os clientes do Giraffas são o maior bem que a empresa possui e buscamos constantemente formas para melhor atendê-los.
Atenciosamente,
SAG-Serviço de Atendimento Giraffas

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A gripe suína da economia europeia

Os PIIGS representam, de fato, uma ameaça à economia da União Europeia. A nova doença dos porcos diz respeito à frágil economia de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, detentores das iniciais de mais uma sigla irônica na geopolítica e economia mundial (a lembrar: MAD – Mutual Assured Destruction, da Guerra Fria – e Nafta – North American Free Trade Agreement – o tratado de livre comércio da América do Norte), cuja economia passou a ser suportada pelos grandes europeus em nome da estabilidade do euro.

Para que a União Europeia funcionasse como desejado, era preciso que estes países se desenvolvessem o suficiente para não precisarem mais da ajuda de seus co-irmãos. Isso não aconteceu e, após a crise de 2008, a situação da maioria desses países se deteriorou. A bola da vez é a Grécia, país pouco industrializado e de baixa produtividade agrícola cuja maior parte do Produto Interno Bruto (75%) advém do setor de serviços. Seu déficit público, que seria tolerado até 3% pelo Banco Central Europeu, chegou a 12% do PIB e sua dívida ultrapassou a casa de €300 bilhões, o equivalente a 113% do PIB. Desde 2000, o saldo de sua balança comercial vem acumulando déficits crescentes.

Qual é a receita para sanar sua economia? A velha fórmula que combina corte de gastos com aumento de impostos. Essas medidas, que já deram errado aqui na América do Sul, não farão diferença alguma em termos estruturais; no máximo darão fôlego para os contribuintes alemães gastarem menos com seus vizinhos gregos por um tempo. Ou seja, podemos esperar que a crise se agrave em breve.


Para piorar, os alemães, cansados de sustentar a frágil economia suína, estão ameaçando expulsar a Grécia da Zona do Euro ou, como último recurso, ela mesma tirar o time de campo e ressucitar o robusto marco alemão.

terça-feira, 16 de março de 2010

Redistribuição

De uma hora para outra, o Rio de Janeiro ficou alguns bilhões de reais por ano mais pobre. A emenda de Ibsen Pinheiro sobre a divisão dos royalties do petróleo equitativamente entre os estados e o Distrito Federal se baseia na igualdade de todas as unidades da federação perante a União. Para ele, "todos os brasileiros pagarão essa conta, como pagaram cada centavo da construção da grandeza da Petrobras ao longo de décadas de produção insuficiente".

Esquece-se que as consequências como a favelização de Macaé, a poluição gerada durante o início da exploração e alguns desastres ecológicos não foram socializados entre estados e Distrito Federal.

Se o litoral é de todos, também o são a terra e o subsolo. O Brasil é o maior produtor de minério de ferro do mundo e os impostos gerados vão para os estados produtores. Somos também o maior produtor de soja e o terceiro maior produtor agrícola do planeta. Que parte dos impostos vai para o Rio de Janeiro?


Se queremos equalizar os estados perante a União, a proposta correta seria centralizar todos os impostos estaduais no Governo Federal e, de lá, redistribuir-se tudo igualmente. A partir daí, poderíamos levar a medida para o microuniverso dos cidadãos comuns e juntar todos a renda num pote e, igualitariamente, dar o mesmo quinhão a todos. Comunismo? Deu errado onde passou. Distribuição de renda deve ser feita com inteligência, seja entre estados ou pessoas.

Pura hipocrisia eleitoral.

Atualização em 17/3/2010: Faltou dizer que, quando acabar o petróleo, ficam as favelas, as estradas destruídas e a poluição. Se o estado não tiver os royalties para lidar com os problemas gerados pela exploração, como minimizar suas consequências?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sobre o jornalismo em São Paulo

Este artigo foi publicado pela revista Comunicação & Política, volume 27, número 2, de maio-agosto de 2009. Nele, proponho um novo método de mensuração do viés dos jornais impressos levando em conta a tendência da reportagem, seu tamanho e o valor do espaço publicitário do jornal.

Medindo o viés da imprensa paulistana, chego a algumas conclusões interessantes. Clique na imagem para ter acesso ao artigo em pdf.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Racismo publicado

Vi isso numa revista estadunidense sobre segurança. É ou não é racismo?


Acho que se fosse aqui, os editores receberiam voz de prisão.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Twitter da Lei Seca

Confesso que tenho dificuldade para compreender a natureza humana em certos aspectos. De todos o problemas causados pelo álcool, o maior é, certamente, o número de acidentes de trânsito provocados por motoristas alcoolizados, que vitima terceiros que nada têm a ver com a atitude irresponsável de alguns.

Segundo dados da prefeitura, a Operação Lei Seca já salvou a vida de mais de 3.700 pessoas. Comparando com estatísticas passadas, o número de mortes caiu em um quarto. Ainda assim, sempre que há uma reportagem acerca do assunto, seguem dezenas de comentários criticando a medida.

A expressão máxima dessa estupidez está no twitter da Lei Seca, através do qual as pessoas avisam onde as blitze estão acontecendo para os motoristas que tenham consumido álcool possam desviar e não correr o risco de ser presos. O criador da página justifica dizendo que é para evitar o engarrafamento consequente: pura hipocrisia.

Apoiar a Lei Seca não é questão de moralidade. É de sobrevivência. Quem já perdeu algum parente ou amigo por causa de álcool no trânsito sabe do que estou falando.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

À mulher de Cabral...

Esta semana foi revelado pela imprensa que o escritório de advocacia de Adriana Ancelmo Cabral, esposa do governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho, cresceu 1.836% desde o início de seu mandato, em 2007. Não bastasse isso, o escritório tem entre seus clientes a concessionária Metrô Rio, que enfrenta graves problemas de funcionamento e não parece estar se importando com isso. Nesse caso, há um claro conflito de interesses que deveria ter levado a advogada a recusar o cliente.

Não posso aqui afirmar que há corrupção ou mesmo trapaça neste caso. Mesmo depois que o governador assinou um decreto que beneficiava diretamente um cliente de sua esposa – isso também pode ser coincidência.

Mas, assim como a mulher de César, a de Cabral deveria demonstrar mais honestidade.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Metralhando o próprio pé

Se tem uma coisa que me preocupa em relação à democracia é um país que não tem oposição. Durante o governo de Fernando Henrique, os três principais partidos da base aliada – PSDB, PMDB e PFL – cartelizaram o Congresso. Isso significa dizer que todas as decisões eram negociadas fora do ambiente público e levadas a votação com tudo decidido, pois a maioria absoluta estava a seu lado. Restava ao PT o direito de espernear inutilmente.

A situação mudou quando Lula foi eleito presidente: sem maioria absoluta, o Governo precisa negociar suas decisões com sua base aliada, com seu próprio partido, e com alguns membros da oposição. Seria muito perigoso o PT dominar o Congresso de tal maneira que não houvesse necessidade de um debate.

Mas o que querem Serra e o PSDB através de seu presidente, Sérgio Guerra? Ao que parece, desejam garantir a vitória de Dilma Roussef no primeiro turno. E, como historicamente a votação para o Legislativo costuma acompanhar a do Executivo, garantir também uma bancada recorde para o Partido dos Trabalhadores.

Guerra afirmou que, se eleito, Serra dará um fim ao Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, por considerar o programa eleitoreiro. Quanto à última afirmação, não discordo, embora ache que mesmo uma obra eleitoreira possa apresentar resultados positivos e agradar a população. Além disso, a situação pode alegar que, além de acabar com o PAC, Serra também acabará com o bolsa-família, um programa que goza de grande popularidade. Sobre chamar Dilma Roussef de mentirosa e dissimulada, o presidente tucano excedeu em muito o seu direito.

Oportunamente, Lula respondeu numa reunião a portas fechadas: "O Sérgio Guerra é um babaca", o que foi prontamente comunicado à imprensa com o claro objetivo de se dar uma resposta ao tucano via discurso indireto.

Serra se queima mais a cada dia. O partido se desgastou com o episódio do mensalão tucano e do mensalão do DEM, seu aliado, e já não pode mais evocar a ética em seu discurso contra o PT. O que sobra para ser atacado, então? Como poderão convencer os eleitores de que existe uma necessidade de mudança?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Isso é uma vergonha

Quem são e o que pensam os respeitados jornalistas brasileiros? A imprensa goza da confiança de mais de 50% da população brasileira, ou seja, para metade da população brasileira, se está publicado, deve ser verdade.

Durante as comemorações de virada de ano, o jornalista Boris Casoy soltou a seguinte frase no jornal da Band, após ser cumprimentado por dois garis: "Que merda... dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho...". Foi traído por sua imprevidência, pois seu microfone estava ligado.

Sinceramente, não sei como se passa em São Paulo, mas no Rio de Janeiro, a Comlurb é um órgão respeitado e os garis não costumam ser somente competentes, mas trabalham sorridentes e bem-humorados e, de certa forma, são correspondidos pela população. Seu salário chega próximo aos mil reais, acima da mais baixa escala – não de trabalho, mas de remuneração –, que é o salário mínimo.

Esse episódio mostrou uma face de Casoy que não é exatamente escondida em seus discursos, um homem amargo e que tem como hábito ser do contra e distorcer fatos, e sua arrogância, visível em seu trabalho, transparece agora em sua vida pessoal. Do alto de sua tribuna, o jornalista mostra o que acha do trabalhador mais simples: um merda.