segunda-feira, 19 de maio de 2014

Olimpíadas: a oportunidade perdida

Quando o Rio de Janeiro foi selecionado para sediar as olimpíadas de 2016, a cidade comemorou muito. O Brasil estava em ascensão e havia muito tempo para que todas as obras fossem colocadas em prática. Isso foi em 2009, dois anos depois do Panamericano, que foi um sucesso, e da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo deste ano.

Havia muito trabalho a ser feito: a construção do parque olímpico, as instalações em Deodoro, a despoluição da Baía de Guanabara, obras no setor hoteleiro e transporte. Tudo bem, em sete anos, a cidade era perfeitamente capaz de fazer isso tudo.

Outro dia, passei pelo parque olímpico do antigo autódromo. Tudo na mesma, com placas anunciando futuras instalações para os jogos. Hoje, um amigo me mandou esta matéria do NYT sobre a poluição na Baía da Guanabara, nada que eu já não soubesse, mas com uma visão dos estadunidenses. "Uma latrina", segundo um biólogo entrevistado pelo jornal.

Eduardo Paes, o prefeito, diz que tudo será feito a tempo, mas se vê em seu rosto que ele não crê em suas próprias palavras. Aldo Rebelo, o ministro dos esportes, diz o mesmo e pior: vê-se em seu semblante que ele acredita no que fala! Ufanista exacerbado, por mais pleonástico que isso seja, Aldo poderia tristemente ser uma personagem de Lima Barreto.

Não sou futurólogo nem fatalista, mas a minha opinião é a de que o Rio de Janeiro não sediará as próximas olimpíadas. Não há tempo hábil para que as construções sejam feitas com segurança. E, acima de tudo, a cidade não merece um evento como esse.

Atualização em 19/5: Acabo de me deparar com esta matéria. O que dizer sobre isso?

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Rica não entendeu direito

Rica Perrone defende a Copa do Mundo. Ele é um blogueiro famoso, não obscuro como eu, ligado ao Globo Esporte e com apoio de Furnas, empresa estatal. Ele não só defende a Copa, mas defende o direito de defendê-la, de curti-la sem vergonha.

Também acho isso. Mas o que Rica não entendeu foi que os protestos não são somente sobre a Copa:

"Deve-se odiar a Copa, a Rede Globo e o que mais as minorias barulhentas determinarem.  Acreditem, senhores! Para estes, não fossem estádios, estariamos cheios de hospitais hoje sem nenhum tipo de problema com corrupção.  Afinal, a culpa é da Copa", diz, ironicamente.

Ninguém disse que se não houvesse Copa, os problemas da saúde e da corrupção no Brasil estariam solucionados. A Copa, com tudo o que foi gasto, esfregou a corrupção na nossa cara mais do que nunca, como já havia dito o deputado Romário. A grande revolta é: se há dinheiro para isso, por que não constroem hospitais, escolas, estradas, ferrovias, não melhoram os salários dos professores, não cobram menos nas passagens, e por aí vai. Se há tanto dinheiro para se fazerem estádios, alguns que se tornarão elefantes brancos, como em Manaus ou Fortaleza, por que a vida do brasileiro não melhora? Por que o serviço público é tão ruim?


Rica, a revolta existe e não é de uma minoria. Basta ler isso, ou isso, ou isso para saber. Basta andar pelas ruas das cidades-sede e ver a diferença entre esta Copa e as anteriores: não há ruas enfeitadas, não há muros ou ruas pintadas, não há bandeirinhas penduradas.

O povo brasileiro merece mais do que estádios e jogos de uma Copa cujos ingressos ele mesmo não tem dinheiro para pagar.