quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O que a questão dos royalties expõe

Faltou habilidade política aos deputados do Rio de Janeiro, sobrou confiança em Dilma e os royalties vão-se embora do estado. Além do rombo que ficará daqui para diante no orçamento, a questão dos royalties expõe um pouco mais.

A começar, o excessivo poder que estados pequenos e médios têm na Câmara de Deputados. A desproporção do valor do voto entre os eleitores do Sudeste e do Norte já foi tema de artigo aqui, inclusive com sugestões de mudanças que nunca acontecerão. Dessa forma, os estados mais populosos como Rio e São Paulo ficam à mercê da vontade dos demais, que não raro se unem para conseguir benefícios.

Mas algo que sequer foi discutido é o impacto ambiental da exploração de petróleo do pré-sal na costa dos estados produtores. Em primeiro lugar, o óleo está a 400km da costa brasileira e, considerando que a Corrente do Brasil aponta para baixo, os estados do Sul do Brasil podem sair muito prejudicados por um eventual vazamento. Contudo, o óleo, provavelmente, iria parar na Antártida, causando um grave desastre ecológico.

Mas essa não era a questão. Foi somente uma disputa de força, sem argumentos lógicos razoáveis ou pensamento no bem maior. Não há bom senso nas discussões da Câmara e do Senado quando se trata de uma luta dos estados por vantagens. Cada um só quer saber do seu, e assim, ganha quem faz os melhores acordos. Perdem o país e o povo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Petralhas e privatas

Terminei de ler o livro "A privataria tucana", em que o autor Amaury Ribeiro Jr. prova com documentos todo o histórico de corrupção, suborno, desvio e lavagem de dinheiro que rolou durante a época das privatizações no governo Fernando Henrique. Do mesmo modo como não pegaram o Lula, nada respinga no seu antecessor, mas José Serra e sua família são completamente comprometidos pelos papéis reproduzidos no livro, especialmente em sua relação com o banqueiro Daniel Dantas. O esquema é muito sofisticado, envolvendo criação de empresas, mudança de razão social, falências, Miami, Ilhas Virgens e território nacional. Difícil rastrear, mas não impossível, tanto que o livro foi feito. E que nome aparece no esquema de lavagem? O de Marcos Valério.

Fiquei impressionado. Vi que, perto do PSDB, o PT parece um bando de crianças numa loja de doces fechada, lambuzando tudo e fazendo um estardalhaço, mesmo não querendo ser descoberto. Pegaram, julgaram e condenaram, para o bem do país.

E os tucanos? Quando serão pegos? A condenação dos petistas me deu esperança de que, mais cedo ou mais tarde, consigamos colocar no banco dos réus aqueles que merecem. Mas tem uma raposa que jamais será capturada e responde pelo nome de José Sarney: este sequer será investigado, e sabem por quê?

Porque todos precisam dele. O PMDB é o grande garantidor da governabilidade e sempre vai aderir ao partido que estiver no poder. Por isso, nunca é bom bater de frente com eles, pois quando chegar a sua vez de governar, eles estarão lá para dizer "sim senhor" e recolher sua fatia.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Lula e o que há de pior

Foi com real decepção que recebi a notícia de que Lula estava se unindo a Paulo Maluf pela candidatura de Fernando Haddad. Por mais que eu entenda que a política nem sempre parece coerente e que se reorganiza num piscar de olhos, dessa vez foi demais. Maluf representa tudo aquilo de que São Paulo se esforçou durante décadas para se livrar: a direita mais corrupta, mesquinha, populista e reacionária do Brasil.

Maluf tem um passado vergonhoso e um presente mais ainda: além de ser réu em diversos processos, foi um dos homens fortes da ditadura e acabou alijado da política paulista em prol de uma direita mais liberal representada pelo PSDB de Serra e Alckmin.

Lula dá um tiro no pé fazendo algo que nem seus adversários tiveram coragem de fazer: aliar-se ao quase-morto político representante do pior que o Brasil já produziu tanto em termos éticos como político-administrativos.


Talvez isso não chegue a prejudicar a inabalável imagem do ex-presidente. Mas certamente vai tirar votos dos petistas menos convictos (que não são poucos) em São Paulo e ajuda a queimar Fernando Haddad por um bom tempo. Haddad, que foi péssimo Ministro da  Educação, já não tinha chance nessa eleição. Agora ele está morto. Que bom!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Caiu na rede, é peixe

A revolução digital trouxe inconvenientes que não eram tão comuns em outras épocas. Antigamente, quando aparecia alguma foto "não publicável", era necessário tomar cuidado com o lugar onde se revelavam as imagens, pois frequentemente os operadores das máquinas roubavam fotos impróprias para mostrar aos amigos. Com o tempo, essas fotos passaram a ficar disponíveis em BBSs e, por fim, na internet.

Com a popularização da fotografia digital, o maior risco passou a ser para adolescentes e jovens que, inadvertidamente, tiravam fotos indevidas e enviavam por email a amigos e afins. A proliferação de worms e malwares tornou os computadores ainda mais vulneráveis e os arquivos mais expostos.

O caso Carolina Dieckmann, assim como o caso Scarlett Johansson, são exemplos disso. Invadir celulares e computadores e, especialmente, emails de pessoas famosas, não é muito difícil, principalmente para hackers que treinam contra sofisticados sistemas bancários. É importante ter instalados no computador programas antivírus e firewalls, mas, acima de tudo, nunca deixar em sua máquina e nunca, mas nunca mesmo, enviar por email imagens que não possam ser divulgadas. Afinal, caiu na rede...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A solução está na educação

O título deste artigo parece óbvio. E é. Então, o que nos impede de melhorar a Educação no Brasil? A resposta é "nada". Na verdade, a passos de tartaruga, a educação está melhorando, mas não de forma estrutural.

Professores primários são extremamente mal remunerados no Brasil, o que torna lecionar em escolas públicas municipais e estaduais extremamente desinteressante, uma última opção para quem não conseguiu arrumar outro emprego e um trampolim para melhores oportunidades.

Dessa forma, os alunos, cuja estrutura familiar muitas vezes já é prejudicada pela falta de educação e cultura formal, acabam semi-alfabetizados por professores sem o menor estímulo e, muitas vezes, sem o menor preparo para educar. Esse ciclo foi comprometendo gerações e mais gerações até chegarmos no estado atual – precisando importar mão de obra estrangeira para suprir os postos de trabalho especializados. E o Brasil para de crescer porque muitos destes postos ficam ociosos.

A solução para isso é a mais simples possível, tanto que chega a ser óbvia e ridícula: o professor primário deveria ganhar tanto ou mais que o professor universitário, pois assim é sua importância. Um salário inicial de sete ou oito mil reais atrairia profissionais gabaritados e educadores pós-graduados passariam a ter escolas como sua primeira opção. Esse aumento de salário resolveria quase todos os problemas do país, desde a violência até o crescimento econômico, em apenas uma geração, menos de vinte anos.

O Brasil tem dinheiro para isso, pois o Tesouro não para de acumular divisas. Hoje, prefeituras com orçamentos restritos são os maiores responsáveis pelos salários dos professores, mas o que impede o Governo Federal de ajudar sob forma de bônus? O que de fato impede que o Brasil pague a seus professores primários a mesma coisa que ganham os professores de cursos superiores? Sinceramente eu não sei.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Anistia e Verdade

Até pouco tempo atrás, eu contra qualquer tipo de punição a crimes relacionados com a ditadura, tanto praticados pelo Governo quanto pela esquerda, tendo em vista a Lei da Anistia. Mas recentemente mudei de opinião e explico por quê.

Como afirma o coordenador-chefe do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) Ivan Luís Marques, crimes cometidos por ditaduras em escala não são crimes políticos, são crimes contra a Humanidade, portanto nenhuma lei nacional pode perdoá-los. Os criminosos precisam ser descobertos e entregues ao Tribunal de Haia.

Colocar Estado e "subversivos" no mesmo caldeirão é cometer uma injustiça: o primeiro conta com toda a força de segurança e aparato do Estado, que deveria ser usada para defender o cidadão que acabou por combater. O outro grupo, mesmo formado por esquerdistas, tinha como objetivo restabelecer a democracia no país, e não impor uma ditadura comunista, como alegam os defensores do regime. Estes eram uma minoria.

Numa reportagem recente, a Globo deu voz ao procurador Otávio Bravo, que justificou juridicamente a possibilidade de punição dos sequestros não resolvidos durante a ditadura: se não apareceu corpo, o sequestro é considerado em andamento, ou seja, não está coberto pela Lei da Anistia. Uma tecnicalidade que pode mudar a História dos crimes cometidos durante o regime militar.

Com ou sem punições em vista, é necessário descobrir o destino com os desaparecidos políticos da ditadura. Suas famílias merecem saber o que aconteceu e se há corpos para enterrar. A Comissão da Verdade tem essa função e, seguindo as tendências do resto da América do Sul, deve fazer seu trabalho até o fim.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A incoerência carioca

O calor acima dos 40°C parece ter fritado de vez os miolos dos cariocas. Outro dia tivemos um delírio coletivo de que Cesar Maia (DEM) e Anthony Garotinho (PR) estavam se unindo pela candidatura de seus filhos Rodrigo e Clarissa à prefeitura do Rio de Janeiro.

Os impopulares Maia e Garotinho ocuparam, respectivamente, a prefeitura do Rio e governo do Estado. O primeiro viu sua aprovação despencar enquanto ocupava o cargo e o segundo enquanto sua esposa, Rosinha, fazia uma gestão desastrosa – especialmente em termos de segurança pública – no cargo em que o sucedera. Rodrigo Maia, por sua vez, é um bem votado, mas inexpressivo, deputado federal. Não é bom orador, mas funciona para a Câmara, pois articula bem nos meios políticos. Nada a ver com os eleitores.

Talvez a única semelhança que Maia e Garotinho tenham, além da impopularidade, seja o fato de ambos fazerem oposição ao PT, Maia de forma mais discreta e Garotinho comparando Dilma a Hitler.

Do outro lado, Eduardo Paes (PMDB) já faz uma gestão muito ruim, pelo menos em termos de saúde e educação, e desviou recursos para a publicidade, que superaram em 2.450% a verba da gestão anterior, de Cesar Maia.

Marcelo Freixo, do PSoL, ainda não definiu se será candidato. O deputado vem sendo ameaçado de morte devido ao combate às milícias do Rio de Janeiro e isso pode pesar na decisão. Se Freixo é excelente no Legislativo, paira a dúvida se ele também o será frente ao Executivo do município. Uma coisa é fato: coragem não vai lhe faltar. Mas será que a competência virá junto?

Mais uma vez, o eleitor carioca encontra-se numa encruzilhada entre o velho e fracassado, o atual e despreocupado, e o novo e incógnito. Mas, pelo que tudo indica, teremos mais quatro anos de Duda Paes, que contou com 98 milhões de reais da máquina administrativa para fazer sua pré-campanha.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O mesmo banco, a mesma praça...

Serra declarou que será candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB. Conta, para isso, com o apoio do desafeto Geraldo Alckmin. Mas o eleitor paulistano deve ficar atento ao candidato à vice-prefeitura, já que o velho tucano ainda não desistiu de disputar a Presidência da República e deve se meter em mais um embate com Aécio Neves daqui a dois anos.

Do outro lado, Fernando Haddad, ex-péssimo ministro da Educação dos governos Lula e Dilma, deverá ser o candidato do PT, que por pouco não contou com o apoio do recém-refundado PSD, de Gilberto Kassab. Vitória política de Marta Suplicy, adversária do novo social-democrático desde a época da Frente Liberal, que jogou o atual prefeito no colo do PSDB para fechar a aliança tucana-demo-kassabista, mantendo unida a direita liberal do estado de São Paulo.

Ambos os candidatos precisam vencer para continuar no cenário político nacional e, quem sabe, crescer politicamente para alcançar o Palácio do Planalto. Serra tem em 2014 sua última chance e Dilma, se reeleita, precisará indicar um sucessor dentro de seu partido, possível aspiração de Haddad.

Ou seja, este ano, o eleitor paulistano está entre duas opções desastrosas. Entre o inescrupuloso Serra e o incompetente Haddad, a cidade de São Paulo promete passar mais quatro anos no marasmo daquela que deveria ter a prefeitura mais forte do país, mas foi transformada em trampolim político para quem quer voos mais altos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Big Brother e o Brasil

A maior discussão da semana passada girou em torno do estupro, não-estupro ou abuso sexual ocorrido durante o programa Big Brother Brasil, que está na décima segunda edição. Em primeiro lugar, precisamos analisar quem são os responsáveis pelo programa ter chegado no ponto onde chegou.

Desde a edição anterior, o teor alcoólico do programa, a mando de seu diretor, aumentou. Alegou-se ainda que ele afirmou que valeria até violência no programa, algo que foi posteriormente desmentido. Mas daí percebe-se o clima de vale-tudo para aumentar a audiência de um programa que não nasceu para ter tantas edições, mas acabou caindo no gosto do povo e não parece que vai acabar tão cedo.

Recém-formado, trabalhei na quarta edição do programa como produtor de conteúdo para o portal na internet. Ao ser entrevistado para ingressar no trabalho, o então coordenador do site em perguntou se eu gostava do programa. A minha resposta foi "não" e, mesmo assim, fui contratado. Das coisas que percebi, três me chamaram mais a atenção: a edição do programa que vai ao ar é feita de tal forma que não exibe de fato um resumo do que aconteceu, mas direciona a opinião do público (aliás, a Globo mostrou que faz isso bem em 1989); de vez em quando, o áudio sumia e, aparentemente de forma inadvertida, os participantes mudavam de assunto e começavam a falar mal de um ou outro participante (seria a voz do Grande Deus, como eles chamavam?); por fim, o programa de atualização dos votos em tempo real, um dia, passou a se comportar de forma estranha, retornando somente múltiplos de mil na soma dos votos do paredão. Não estou dizendo aqui que os números sejam falsos ou manipulados, mas achei muito esquisito os votos, que deveriam crescer de forma errática, ficarem tão redondos.

A polêmica gerada em torno da cena do suposto estupro mostra que a televisão ainda não é livre para fazer o que bem entender. Mas o fato de não ter havido intervenção da direção do programa torna sua produção cúmplice do que quer que tenha acontecido lá dentro. E por mais que a suposta vítima negue ter sido estuprada ou sexualmente abusada, ela não parecia em condições de lembrar o que acontecera, pois, seguindo a diretriz do programa, embebedou-se à inconsciência.

Talvez seja mesmo a hora das emissoras de televisão do Brasil reverem seus conceitos. Caso contrário, talvez seja a hora de alguém rever esses conceitos por elas.