quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Só uma dor de cabeça

Dentro de alguns dias, Daniel Dantas não será mais considerado criminoso. O juiz Arnaldo Esteves Lima, do STJ, suspendeu todas as decisões tomadas a partir da operação Satiagraha, inclusive sua condenação. Esse é o primeiro passo para a anulação do processo e a liberação dos US$450 milhões que o banqueiro tem bloqueados nos Estados Unidos.

Dantas foi condenado a dez anos de prisão mais multa de R$12 milhões por corrupção ativa e está envolvido em processos de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Apesar de toda a polêmica gerada pela operação, a atitude da Polícia Federal foi louvável, como vem sendo em suas missões que deixaram de lado criminosos comuns e passaram a atacar as classes mais corruptas e impunes da sociedade. Há algum tempo, quadrilhas de classe média e alta vêm sendo desbaratadas e seus membros presos sem a habitual distinção entre pobres e ricos feita pelas polícias estaduais.

Mas de que isso adianta se, no fim, uma pessoa exerce um poder suficiente para jogar tudo pelo ralo? No final terá sido só uma grande dor de cabeça.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Dubai e as ilhas da fantasia

Dubai não tem petróleo, mas parecia uma terra paradisíaca para os bilionários, principalmente homens de negócio e dos esportes. A explosão imobiliária do emirado atraiu milhares de pessoas, em sua maioria investidores e trabalhadores de multinacionais que foram em busca de dinheiro. Pessoas que antes eram de classe média começaram comprar imóveis ainda em construção.

Ilhas artificiais foram criadas, um complexo chamado "The World" que lembra os filmes futuristas de ficção científica. Um hotel em pleno mar, um complexo imobiliário em forma de palmeiras e uma dívida de quase cem bilhões de dólares foram o resultado desse empreendimento que prometia preparar a região para o futuro.

Esqueceram-se os ricos imigrantes de que se tratava de um emirado com leis rígidas e pouco inteligíveis para nossa cultura ocidental. Depois da crise de 2008, as obras foram paralisadas e quem pôde fugiu de lá deixando para trás carros, imóveis e o sonho da Ilha da Fantasia. Quem não fugiu e não pagou as dívidas foi preso e condendado.



No final de novembro, Dubai anunciou uma moratória de US$59 bilhões. Algo normalmente não tão grave, já que a prática é comum e não costuma acarretar em maiores consequências para os países em longo prazo: eles usam o dinheiro economizado com o não-pagamento da dívida para seu desenvolvimento e a renegociam com um belo desconto, às custas de sua confiabilidade. Mas Dubai não tem indústria. Não tem petróleo. Não tem água. Tem concreto e areia.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A imprensa do Rio

O Rio de Janeiro vai de mal a pior em questão de imprensa. Antes, havia dois grandes jornais com linhas editoriais distintas, O Globo e o Jornal do Brasil. Ainda que ambos tivessem um viés mais direitista, o primeiro era mais dirigido à classe média e o segundo, mais elitista. Para as classes mais baixas, existia O Dia, que foi melhorando de qualidade até o golpe do lançamento do Extra, pela empresa do Roberto Marinho, que era vendido a um preço ridiculamente baixo (R$0,25, se não me engano).

Hoje, não há mais JB. Há, mas não há. Inclusive há boatos de que a edição impressa deixará de circular e o jornal vai ser publicado exclusivamente online. O nível do Dia teve de descer ao do Extra para fazer frente junto ao seu público. Sobrou apenas O Globo.

O que me incomoda no jornal não é somente a linha editorial baseada no denuncismo e na busca pela desordem institucional. É o sensacionalismo, que ultimamente vem se colocando no nível dos programas mais vulgares como o de José Luiz Datena e Wagner Montes. A imagem abaixo é um excerto da edição online de hoje de manhã. Se espremer, sai sangue.


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Caetano, ¿por qué no te callas?

O crepúsculo de uma carreira é realmente triste. Lá se vão vinte e cinco anos do último disco genial de Caetano Veloso, o "Velô", e uns dez de seu último bom trabalho autoral.

Desde então, o ex-compositor tem feito de tudo para aparecer na mídia da pior maneira possível. Suas declarações não são somente polêmicas, são preconceituosas e, provavelmente, são emitidas com o objetivo de gerar respostas como a que publico neste blog.

Logo depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, Caetano fez questão de declarar que considerava Osama Bin Laden "um homem bonito" sem que ninguém lhe perguntasse sua opinião sobre o físico do terrorista saudita. Essa semana, conseguiu soltar duas pérolas: chamou Woody Allen de "careta" e "reacionário" e Lula de "analfabeto", "cafona" e "grosseiro".

Ninguém é obrigado a gostar de um cineasta, e eu mesmo acho Woddy Allen muito maçante, às vezes, mas não é possível negar sua genialidade. Quanto ao presidente, que mais uma vez é chamado de analfabeto, é preciso explicar para Caetano o significado dessa palavra. Lula teve, sim, uma educação tardia, ainda comete erros de português, mas jamais chegaria aonde chegou – da forma como chegou – se fosse analfabeto ou ignorante.

Criticar o presidente por sua atuação ou por seus atos no exercício do poder é uma coisa. Mas emitir comentários preconceituosos não é somente deselegante. É cafona e grosseiro.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

E a saúde, Cabral?

Dia 23 de outubro, o Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro publicou o desvio de 10 milhões de reais do Fundo Estadual de Saúde para a Subsecretaria de Comunicação Social da Casa Civil com as assinaturas do secretário da Saúde Sérgio Côrtes e do subsecretário de comunicação da Casa Civil Ricardo Cota.

Não sei se a medida em si é ilegal, mas imoral, certamente. Não que não se possa gastar o que necessário em publicidade do governo, mas esse gasto precisa ser planejado e orientado, e não desviado da saúde na véspera do início de uma campanha eleitoral.

Assim, a saúde do Estado continua padecendo e, para o governador Sérgio Cabral, responsável pela manobra, parece que dez milhões a mais ou a menos não fazem tanta diferença. Até porque as UPAs, o carro-chefe de sua primeira campanha, não têm funcionado como a população esperava.

As eleições vêm aí e o povo tem mais uma chance de mostrar o que não quer na política. Resta ver se essas informações vão chegar a quem decide, de fato, o futuro do Estado do Rio de Janeiro.



Atualização em 30/10: O blog da Veja diz que Eduardo Paes pretende gastar R$ 120 milhões em propaganda nos próximos dois anos. Apenas 32 vezes mais do que seu antecessor Cesar Maia.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não marque nada para segunda

Dia 30 de setembro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei transfere quase todos os feriados para segunda-feira, mesmo os que caem às sextas. Essa prática já foi adotada no Rio de Janeiro pelo prefeito Marcello Alencar e prejudicou imensamente a sua população, tanto que foi abortada.

É verdade que um feriado no meio da semana atrapalha o comércio, mas com todos os feriados marcados para as segundas, é impossível para um profissional liberal, seja um professor ou um psicanalista, atender nesse dia, já que ninguém vai querer perder tantas sessões ou aulas. Os cursos podem esquecer o início da semana e abrir somente na terça-feira, pois as aulas de segunda estarão comprometidas.

Esse problema se estende às faculdades. Num semestre cheio de feriados, como o atual, as disciplinas da segunda-feira ficarão extremamente prejudicadas.

Será que os deputados pensaram nisso antes de aprovar essa lei absurda?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O que fazer com Polanski?

Ele é um dos maiores gênios do cinema de seu tempo, disso não há dúvida. De "Repulsion" até "O Pianista", passando por "O bebê de Rosemary", Roman Polanski coleciona clássicos, ganhou um Oscar e um Globo de Ouro e ainda tem muito trabalho para fazer.

Mas em 1977, dopou e estuprou uma adolescente de 13 anos durante uma sessão de fotos nos Estados Unidos. Ela sequer estava acordada para se defender ou dizer não para o diretor. Trinta e dois anos depois, finalmente conseguiram pegá-lo num país com acordo de extradição.

Estupro, assim como assassinato, é um crime hediondo e, por isso, não prescreve nos EUA. Nem deve. Nós, fãs do cinema, podemos lamentar sua prisão como uma perda para a cultura, mas como seres pensantes, não podemos achar que o caso deva ser simplesmente esquecido.

A própria vítima do estupro já pediu para que a acusação fosse retirada, pois não aguentava mais a exposição, mas a Justiça dos EUA disse que Polanski precisa se entregar e solicitar a anulação do caso.

Não sei dizer o que seria correto nesse caso, mas, mesmo trinta anos depois, um crime dessa natureza não pode ser simplesmente deixado de lado.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

E o que o Brasil tem com isso?

O pepino é maior do que o Brasil previa. Montagem: Flávio S. ArmonyAté agora não entendi qual foi a estratégia do Brasil ao receber o ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya em sua embaixada no país. Esse não é o tipo de conflito em que nosso país costuma se meter, ainda mais quando parece não entender exatamente o que está se passando.

Zelaya foi eleito democraticamente para o cargo, mas excedeu sua autoridade quando convocou um plebiscito para a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Seu objetivo era reformar a Constituição do país de forma a permitir sua reeleição. Entretanto, o artigo 239, cláusula pétrea da Constituição hondurenha, proíbe a reeleição presidencial e prevê que aquele que tentar alterá-lo deve ser destituído imediatamente do cargo e perder a qualidade de cidadão, assim como os que o apoiarem.

A Corte Suprema do país ordenou a destituição de seu presidente e deixou a cargo das Forças Armadas a execução da ordem. O problema é que os exércitos latino-americanos são dados a truculências e, em vez de dar voz de prisão ou deixá-lo em prisão domiciliar, preferiu encapuzar e largar o ex-presidente na Costa Rica.

Agora Zelaya está de volta ao país e, por causa da diplomacia brasileira – normalmente tão eficiente –, surge uma nova crise: o que fazer com ele? Não dá para enviá-lo novamente para a Costa Rica. Soltá-lo em território hondurenho é um risco muito grande a sua vida. Talvez a saída seja uma negociação para, quem sabe, deixá-lo em prisão domiciliar. Aí eu pergunto: não seria melhor viver exilado na Costa Rica?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Bingos: legalizando o crime organizado

Mais uma vez a Câmara dos Deputados demonstra estar indo na contramão do bom senso. Sua Comissão de Constituição e Justiça aprovou a legalização dos bingos e dos caça-níqueis sob a alegação de José Genoíno (PT-SP) de que "o jogo é da natureza humana". Pode ser, mas tenho dificuldade em enxergar o bem que uma medida como essa pode fazer pela sociedade.

Não somente porque conheço algumas histórias sobre pessoas que perderam tudo em máquinas de caça-níqueis, que são programadas para não deixar o jogador vencer e não têm como ser fiscalizadas nesse sentido, afinal sempre pode-se alegar que "joga quem quer".

O Ministério Púbilco já havia denunciado a ligação entre o bingo e o crime organizado. Montagem: Flávio S. ArmonyO grande problema é que bingos podem funcionar como grandes lavanderias de dinheiro ilegal, já que não precisam comprovar a fonte de seus ganhos, podendo justificar tudo como apostas de seus clientes. Assim, fica fácil para traficantes e políticos corruptos fazerem uso de seus recursos e provavelmente até pagarão impostos sobre eles.

Mas os governistas só querem saber do imposto que isso vai gerar. Afinal, quando o dinheiro entra, ninguém quer saber de onde ele vem. Resta agora torcer por um pouco de lucidez da Câmara e do Senado na votação do Projeto, o que parece cada vez mais difícil.

domingo, 30 de agosto de 2009

Made in China II

Sei que é um assunto batido, mas a cada vez que vejo algo assim, sinto-me no dever de alertar quem eu puder. Ontem, nas Lojas Americanas, deparei-me com um pacote de escova dental chamado Dental Clear numa embalagem bem vagabunda no esquema "leve 3, pague 2". Evidentemente, o produto era fabricado na China.

Não bastasse ser uma escova genérica, parecia ser de péssima qualidade, além de não ser recomendada pela Associação Brasileira de Odontologia. Isso representa um perigo, pois a composição e o grau de rigidez das cerdas pode prejudicar a gengiva e o esmalte dos dentes.

Isso já seria motivo suficiente para não se comprar a escova. Mas, para piorar, algumas embalagens vinham com o produto encardido! Em que condições essas escovas são produzidas e embaladas? Qual é a origem do material usado? Até porque, descobriu-se que muitos elásticos de cabelo fabricados naquele país são produzidos a partir de camisinhas usadas num esforço para aproveitamento total e acabam custando muito barato. Será que são estes que chegam nos camelôs brasileiros?

Bem, resolvi comparar com uma escova muito parecida, a Colgate Extra Clean, que tem o mesmo limpador de línguas e um formato praticamente idêntico. Pela foto, dá para notar que é uma cópia cuspida (com o perdão do trocadilho), a não ser pela disposição das cerdas, que é ligeiramente diferente.

Aliviado por ter um produto de qualidade em casa em vez de um genérico suspeito, qual foi a minha surpresa quando vi a etiqueta: o produto também é produzido na China. E agora?

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Carros a Diesel: na contramão da História

Esta semana, recebi um boletim do Senador Gerson Camata informando sobre o Projeto de Lei Substitutivo 656/07 que propõe a liberação da fabricação de carros de passeio com capacidade de carga até mil quilogramas movidos a Diesel. O senador alega que é uma forma de dar acesso a combustíveis mais baratos para a população, que hoje conta com carros a álcool, gasolina e GNV.

Entretanto, existem bons motivos pelos quais isso nunca foi permitido no Brasil. Primeiramente, o nível de poluição do Diesel é alto devido ao teor de enxofre que está contido no combustível. Mesmo com a diminuição dessa concentração para 50 ppm ou 10 ppm nos próximos anos, é um combustível barato que acabaria substituindo o uso do álcool, que é pouco poluente, pois todo o gás carbônico que joga no ar é capturado pela cana-de-açúcar em estágio de crescimento.

Em segundo lugar, ainda existe subsídio do Diesel no Brasil, pois ele é utilizado para fins comerciais (ônibus, caminhões de carga). Caso o combustível possa empurrar carros de passeio, sofreremos uma dessas consequências: ou o subsídio persiste e os novos motoristas abandonarão os carros flex, a álcool e a GNV e o nível de poluição aumentaria consideravelmente, principalmente nos centros urbanos; ou o subsídio acaba e todos os preços de transporte sobem, gerando uma inflação inicial grande em praticamente todo tipo de produto no Brasil.

Existem outras soluções para diminuir o preço dos combustíveis. Uma delas é a diminuição dos impostos, que hoje elevam o preço da gasolina em quase 80%. Mas aí nos depararíamos com outra questão: realmente precisamos de mais carros na rua? Ou é melhor investir em transporte público de qualidade?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Que situação, Lula!

O Presidente da República encontra-se, hoje, numa situação muito delicada e desagradável: a necessidade de apoiar o presidente do Senado para manter o apoio do PMDB.

Lula encotra, talvez, o momento mais crítico de sua segunda administração, passados os escândalos que envolveram seu primeiro mandato. José Sarney, o ex-presidente que entrou para a história como a administração mais catastrófica da Nova República deixando uma inflação anual de quase 1.800% e um déficit crescente, parece ter perdido uma grande oportunidade para limpar, ou pelo menos melhorar, sua imagem perante a memória do Brasil.

Se houvesse extinguido as diretorias como prometera, se houvesse enxugado os gastos do Senado... enfim, se ele não fosse José Sarney. Mas o vício é uma praga e as práticas ilícitas e mesquinhas já estão tão arraigadas no sangue do Barão do Maranhão que ele não sabe ser diferente. Não sabe e não quer.

Enquanto isso, Lula fica se humilhando, dando entrevistas constrangedoras, defendendo bandidos com pesos e medidas diferentes porque teme o PMDB. Sem seu apoio, o governo não aprova nada no Congresso. Sem seu apoio, Dilma perde muita força na corrida presidencial de 2010.

A questão é: será que vale todo esse desgaste? Porque por aqui, nós já estamos cansados.

terça-feira, 21 de julho de 2009

F2: a lição não aprendida

Ontem um acidente matou um jovem piloto na Fórmula 2, categoria recriada este ano para servir como feeder da Fórmula 1. Henry Surtees, de 18 anos, era filho do multicampeão John Surtees e sofreu um traumatismo craniano quando uma roda soltou-se de outro carro e atingiu seu capacete.

Parece que a FIA não levou para suas categorias de base uma lição aprendida a um custo muito alto, que foi a morte de Ayrton Senna. Foi necessário que o tricampeão brasileiro morresse para que algumas medidas de segurança fossem tomadas para proteger os pilotos.

Uma delas teria salvado Senna: a obrigatoriedade de cabos de aço prendendo as rodas ao carro mesmo após a quebra da suspensão. Como se pode ver no vídeo abaixo, parece que na F2 essas correntes não servem para nada. Note-se que tanto a roda do carro de Jack Clarke quanto a de Surtees se desprendem do carro. Faltou controle de qualidade?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ford Pinto com asas

Alguém se lembra do Ford Pinto? Parece que ganhou asas e mudou de forma, mas ele ainda existe. Explico: o Ford Pinto era um carro que entrava em combustão facilmente devido a sua arquitetura, que permitia, no caso de uma colisão frontal a 40km/h, que o combustível vazasse sobre o diferencial, causando ignição e, frequentemente, matando todos os seus ocupantes. Para a Ford, indenizar suas vítimas em vez de fazer um recall de todas as unidades representaria uma economia de mais de US$ 80 milhões

Hoje, a Airbus é uma das maiores fabricantes de avião do planeta, rivalizando em vendas com a Boeing. Entretanto, o índice de acidentes com suas aeronaves é bem mais visível do que o de seu concorrente.

Não faltam análises para identificar as causas, que parecem estar em desde a arquitetura dos aviões até problemas de controle com o piloto automático. No acidente com o voo 447 da Air France, a causa mais provável é uma falha no sensor de velocidade, que teria permitido que o avião voasse a uma velocidade acima daquela que sua estrutura suporta. O acidente em Guarulhos com o voo da TAM número 3054 foi causado, em parte, por um problema de software, que acelerou o avião no momento de seu pouso. O voo 72 da companhia australiana Qantas fez um pouso de emergência e deixou 112 feridos, alguns em estado grave, por falha no piloto automático.

Esse conjunto de "fatalidades" não pode ser coincidência. Parece que também é mais fácil lidar com perdas humanas do que reprogramar a aeronave para a multinacional francesa.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A imprensa e o gigante

O jornalismo brasileiro, fato, nada tem de imparcial ou objetivo. Não faltam provas em relação a isso, seja no meio acadêmico, seja na própria imprensa. Basta ler o Observatório da Imprensa, do Alberto Dines, ou reportagens de Mino Carta para constatar que mesmo os jornalistas têm essa noção.

Diante disso, a ordem do dia era bater na Petrobras. Aproveitando o clima da CPI, era possível enfraquecer o governo atacando um de seus pilares, a maior fonte de capital do país. Como de costume, os jornalistas enviavam perguntas à assessoria de imprensa da empresa e, com as respostas, preparavam suas matérias como se fossem furos de reportagem. Frases eram tiradas de contexto, dados eram publicados de forma incompleta para dar a sensação de incompetência e inoperância da empresa.

A máscara caiu: a petrolífera resolveu criar seu blog, chamado Petrobras - Fatos e Dados, através do qual publica todas as perguntas e respostas feitas por jornalistas para mostrar ao público a fonte crua das informações da imprensa. Resultado: uma grande discrepância entre as respostas e as reportagens.

A grita da imprensa foi geral, dizendo que a atitude feria o princípio da confidencialidade. O argumento fere a inteligência até dos mais limitados, pois a todos os dados divulgados são públicos e as perguntas, uma vez feitas, não pertencem a ninguém.

Blog da Petrobras - Fatos e Dados
Essa é uma atitude sagaz da Petrobras, que desarmou a imprensa simplesmente dando o outro lado das matérias, provando mais uma vez sua falta de imparcialidade. Mas não há guerra declarada, apenas uma grande empresa que tem seus meios para se defender.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Reforma política: lista fechada x lista aberta

Artigo publicado pela Revista Autor em 1 de junho de 2009.

O tema da reforma política está em discussão há tempos, mas ultimamente há uma maior pressão para que ela seja executada. Uma das questões a serem decididas é o tipo de voto nas eleições proporcionais. Nesse quesito, abre-se uma discussão para a adoção da lista fechada contra o que existe hoje, a lista aberta.

Para conhecimento: lista aberta é aquela em que os partidos apresentam os nomes dos candidatos e o eleitor pode votar tanto em seu candidato preferido quanto na legenda do partido. Na lista fechada, os partidos apresentam uma lista ordenada de pretendentes ao cargo e o eleitor pode votar apenas no partido.

Ambos os casos têm lados positivos e negativos e, ao meu ver, é impossível dizer se um funcionaria melhor do que o outro no Brasil. A lista aberta abre espaço para o clientelismo, ou seja, um deputado pode ser eleito por um grupo local com ações paliativas e totalmente locais embora, no caso dos deputados federais, seu papel seja o de projetar políticas nacionais. Assim, deputados corruptos chegam mais facilmente ao poder, desde que tenham seu quinhão de votos garantido. Outro aspecto negativo diz respeito ao eleitor, que não sabe que seu voto também vai para o partido, e não somente para o candidato. Assim temos distorções como a que elegeu toda a bancada do Prona de São Paulo em 2002. Em compensação, o eleitor tem maior poder de decisão, pois os candidatos mais populares ficam com o cargo e o percentual de renovação dos deputados pode ser mais alto.

Na lista fechada, o partido é quem dá as cartas: ele apresenta uma lista de candidatos ordenada e os deputados são eleitos nessa ordem conforme o número de votos que o partido receba. Dessa forma, se um partido encabeçar a lista com um deputado corrupto, mesmo que ele tenha clientela, vai perder votos e terá sua bancada diminuída. Assim, a tendência é que os partidos listem candidatos mais idôneos, ou seja, a pressão popular por esse tipo de candidato será mais sentida. Outro fato positivo é que assim se força uma maior identificação do eleitor com o partido, tirando espaço de partidos nanicos e oportunistas, deixando a eleição mais organizada. Isso não impediria, entretanto, o episódio de 2002 citado anteriormente, mas o eleitor saberia que estaria votando no Prona, e não em Enéas Carneiro. O lado negativo é que o eleitor perde poder de decisão e, com isso, corre-se o risco de se elegerem sempre os mesmos caciques para as cadeiras legislativas. Podem-se criar deputados vitalícios.

Mas de nada adianta a discussão sem uma regulação em torno da fidelidade partidária. Atualmente, elege-se uma bancada, mas quem governa é outra. Isso porque muitas vezes se fazem filiações e alianças eleitoreiras, que nada têm a ver com a configuração final da Câmara dos Deputados. E, considerando que os partidos têm um alto índice de coerência, ou seja, os aliados votam com o governo e a oposição vota contra, o eleitor acaba sendo mal representado por seu candidato quando este muda de uma corrente para outra.

Poucos são os países em que se adota a lista aberta, mas a tradição brasileira é muito personalista. Uma mudança provavelmente seria muito malvista pelo eleitorado que possivelmente sentiria o voto saindo de sua responsabilidade.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Depois da Coréia do Norte, o Irã?

Eixo do malFoi George W. Bush que começou com essa história de "Eixo do Mal", um pool de países que estariam desenvolvendo armas nucleares em prol do terrorismo composto pela Coréia do Norte, Irã e Iraque. Uma tremenda baboseira, pois os três não possuem esse nível de relação. "Pacificado" o Iraque (nos moldes estadunidenses), que na verdade não tinha capacidade para grandes ameaças, os olhares voltaram-se para Irã e Coréia do Norte. Há alguns anos, o país do Sudeste asiático vem se desenvolvendo nas duas frentes necessárias para se obter uma arma nuclear efetiva: a capacitação balística, ou seja, a construção de mísseis de longo alcance, disfarçada sob a máscara do lançamento de um satélite, e a capacidade de fabricação de uma bomba nuclear.

Desde 2006, o país possui capacidade para ambos. Em 1998 já possuía um míssil balístico intercontinental. A capacidade de destruição da bomba norte-coreana ainda é pequena se comparável ao que existe nos dias de hoje, próxima a das que destruíram Hiroshima e Nagazaki.

A Coréia do Norte não foi atacada antes porque contava com o apoio da China, que, dessa vez, condenou os testes nucleares. Mas agora é tarde. Não há mais sanções a serem impostas e não há segurança em se atacar uma potência nuclear que, com certeza, teria sua vizinha do sul e o Japão como alvos primários.

Olhemos então para o Irã: fontes israelenses dizem que em dois anos o país terá capacidade de fabricar bombas atômicas. O que a comunidade internacional vai fazer até lá? Provavelmente sentar e assistir passivamente até que os primeiros testes comecem no deserto ou no Golfo Pérsico.

sábado, 16 de maio de 2009

Petrobras: privatização à vista (ou a prazo)

Está criada a CPI da Petrobras. De fato, não sabemos o que ocorreu lá dentro – se houve manobra contábil para adiar o pagamento de impostos e, se houve, se essa manobra foi lícita. Caso tenha sido feito algo ilegal, deve haver uma investigação pela Receita Federal e os responsáveis devem ser levados a julgamento e a empresa, multada.

O que se está esquecendo é que a Petrobras praticamente sustenta este país. Se seu prognóstico é favorável, suas ações alavancam o Ibovespa. A petrolífera impediu que o preço do combustível disparasse quando o petróleo valia o dobro do que vale hoje, seguramente ajudando a combater uma possível inflação, e é uma das mais respeitadas companhias do mundo. Com essa CPI, os negócios ficarão mais complicados e suas ações podem cair.

Não custa lembrar que o PSDB, partido responsável pela CPI, quando no poder, fez o possível para privatizar a empresa e conseguiu vender parte de uma refinaria e terceirizar boa parte do serviço, além de produzir todas suas plataformas no exterior. Várias atividades que eram praticadas por ela tiveram que ser assumidas por novas subsidiárias, abrindo a porta para seu desmembramento.

O que vai acontecer se o partido ganhar as eleições para a presidência em 2010? Com Serra ou Aécio, coligados ao DEM e, com certeza, com a posterior adesão do PMDB, a coalizão vai ter os instrumentos para finalmente cumprir seu objetivo de privatizar a Petrobras.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

S-OS: a terceirização do serviço público carioca

O prefeito carioca dá mesmo mostras de que não quer governar. Seria uma síndrome que ataca os ocupantes do Palácio da Cidade? Bem, caso seja, ela está em processo evolutivo e se torna cada vez mais grave. Há, entretanto, a possibilidade de ser uma síndrome bem mais grave, algo ligado a suscetibilidade à corrupção.

Cansado do todo o trabalho necessário para a manutenção da saúde, educação, cultura e meio ambiente no Rio de Janeiro, o prefeito encaminhou o Projeto de Lei 2/2009 à Câmara de Vereadores para transferir a responsabilidade sobre estas áreas a Organizações Sociais (OSs), que podem ser ONGs, cooperativas ou associações. Essas OSs receberão dinheiro da prefeitura para fazer seu trabalho.

Em português claro: estão privatizando os serviços públicos mais fundamentais garantidos na Constituição. O que eu vejo aí é mais uma torneira para drenar os recursos da cidade além de uma via perigosa para a entrada de entidades religiosas com o objetivos "evangelizadores" como acontecia no governo Garotinho.

Não há mais o que fazer na Câmara: o projeto foi aprovado. Agora resta às instituições responsáveis que entrem com recurso no supremo pedindo a inconstitucionalidade da lei.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A barganha mesquinha do PMDB

A demissão dos cargos comissionados da Infraero foi um mais um ato de moralização do que economia na folha de pagamento. Mas a moralização foi feita, basicamente, excluindo cargos do PMDB, maior partido do Brasil e componente da base aliada do Presidente que deve indicar o candidato à vice-presidência no ano que vem.

Barganha política existe e sem ela, ninguém governa. Apesar de vivermos num sistema presidencialista, o chefe de governo não consegue impor sua política sem negociar com o congresso, sejam cargos, sejam políticas específicas para grupos de parlamentares.

Mas o que o PMDB está fazendo ultrapassa a fronteira do bom senso. Segundo a Agência Estado, o partido alterou os textos de duas medidas provisórias que dizem respeito à negociação das dívidas para um índice menor (TJLP) do que o previsto no texto inicial (Selic), contrariando o que havia sido negociado anteriormente, com o único propósito de prejudicar o Executivo.

Sobra para Lula o dever impopular de vetar uma medida que poderia ajudar mais ainda empresários endividados, mas que certamente prejudicaria os cofres públicos.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ahmadinejad não aguentou a pressão?

O presidente do Irã alegou perda de apoio interno a sua candidatura para cancelar sua visita à América Latina. Isso porque o Aiatolá andou despejando críticas a Ahmadinejad sobre uma medida que diz respeito ao poder dos religiosos no país que, sinceramente, nem entendi direito como funciona.

O fato é que as pressões contra sua visita ao Brasil eram crescentes. Depois de seu discurso racista na ONU, nossa imprensa não sossegou sobre o assunto e publicou diversos artigos deixando clara a falta de disposição do povo brasileiro para receber o líder iraniano. Até uma passeata foi organizada em Ipanema.

Não dá para saber o que aconteceria caso a visita ocorresse. Provavelmente, desde sua chegada até sua partida, o presidente persa encontraria protestos, faixas e muito barulho contra sua presença. Talvez a reprimenda que levou de Khamenei seja apenas uma desculpa. Caso não seja, sempre resta a esperança dos reformistas vencerem a eleição no Irã.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Miliciano não entende de saúde pública

Que o Rio de Janeiro vota muito mal, é fato, comprovado eleição após eleição. A Câmara de Vereadores carioca me dá a sensação de um sindicato de quadrilhas com direito a uma sede luxuosa e a Alerj frequentemente legisla sobre assuntos fora de sua alçada. Aliás, de lá surgiu o governador Serginho com seu discurso de defesa dos aposentados e sua incrível capacidade de costurar alianças, inversamente proporcional a sua competência administrativa.

Eis que surge a figura do ex-petista Jorge Babu, policial, deputado estadual eleito a reboque da expressiva votação de Alessandro Molon, acusado de formação de quadrilha e extorsão por envolvimento com as milícias que disputam com o tráfico de drogas e com a polícia formal o controle das favelas no Rio. Tornou-se popular o suficiente para arrastar seu sobrinho Elton Babu para a Câmara de Vereadores, não sem denúncias de irregularidades na campanha como coerção e propaganda ilegal.

Gente assim é bom que fique calada, pois quando abre a boca, se complica. Babu, o tio, enviou um Projeto de Lei para obrigar os portadores do vírus HIV a usarem uma identificação apontando sua condição. Segundo o deputado, a medida visa à proteção dos profissionais de saúde, cujo "despreparo é notório" ao prestar os primeiros socorros. Além disso, haveria uma lista pública divulgada na internet com os nomes e CPFs dos portadores.

Além de ferir de todas as formas possíveis o direito à inviolabilidade da privacidade garantido pelo primeiro capítulo da Constituição, a medida é discriminatória e incita toda forma de preconceito que um soropositivo pode sofrer. Para piorar, o projeto funciona como um desestímulo às pessoas que pretendem fazer o exame de HIV, o que certamente vai deixar a saúde pública no escuro. Qual é a próxima idéia? Obrigá-los a usar uma inscrição de "soropositivo" na manga? Isolá-los num gueto? Câmara de gás?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O fim do ensino médio em Minas

Os adolescentes entram cada vez mais jovens na universidade e, muitas vezes, mal têm a capacidade de decidir o que querem fazer. Alguns, desde criança, têm um sonho e, desse sonho, advém uma determinação e uma certeza da carreira que querem na vida. Outros precisam provar um pouco de cada coisa antes de decidir que área querem seguir. O ensino médio é o momento ideal para se saber, pelo menos, se sua afinidade é com ciências humanas, biológicas ou exatas.

O governo de Minas Gerais decidiu que um adolescente de 17 anos é muito velho para decidir o que quer. Agora, essa decisão deverá ser tomada aos 15! Ao ser aprovado no primeiro ano do ensino médio, o aluno deve escolher qual área seguir. Se escolher humanas, não terá aula de biologia, química ou física. Se escolher exatas, não terá história, geografia ou língua estrangeira.

Algo que aprendi ainda no ginásio (na época era esse o nome do segundo ciclo do ensino fundamental) é que um dos grandes perigos da modernidade – ou um de seus piores efeitos colaterais – era a alienação: o trabalhador ficava tão especializado que era incapaz de fazer outras coisas. Algo como Chaplin apertando parafusos.

Minas tenta deixar seus habitantes ignorantes. Tenta antecipar para a adolescência uma especialização que só é necessária na faculdade. Já hoje vemos com frequência engenheiros que não sabem escrever e jornalistas que mal fazem contas. Imagine o mundo que teremos se essa lei pegar em todo o país?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Duda Paes paga as dívidas de campanha

A construção da linha 4 do metrô é só um pretexto, assim como o estacionamento subterrâneo na orla e a construção das 40 UPAs. As medidas adotadas por Eduardo Paes, em sua grande maioria, envolvem obras e construções. Até o choque de ordem, por algum motivo, tem a participação da Secretaria Municipal de Obras.

Embora o metrô seja de responsabilidade do governo do estado, governador e prefeito são do mesmo partido e administram juntos. Nada se perguntou sobre a viabilidade do projeto à vencedora do consórcio – o trecho original partia de Botafogo –, mas ja há um projeto de lei para permitir a construção nos terrenos remanescentes do metrô, algo que hoje é proibido.

Isso sem falar nas casas que foram demolidas no Leblon com o aval da prefeitura. Para quem não se lembra, quando candidato, Eduardo Paes disse ser necessário fazer um estudo de impacto da vizinhança antes da demolição de prédios tutelados pelas Apacs. A Associação de Moradores do Leblon reclama justamente que o bairro não tem infraestrutura para suportar mais prédios.

Agora essa história de estacionamento subterrâneo em Ipanema. Para início de conversa, a obra vai instaurar o caos no bairro, algo que já é familiar desde os tempos do Rio Cidade – que nos brindou com um obelisco ridículo emergindo do meio da rua. O custo da obra deve ser altíssimo e o benefício certamente será das empreiteras. Mais um espaço público será privatizado e o preço do estacionamento vai disparar.

Por um lado vemos que Paes é um homem de palavra: não descumprirá seus compromissos firmados com os financiadores de sua campanha. Por outro...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Questão de proporcionalidade

Quando me disseram que Cristovam Buarque estava doente da cabeça, achei que era intriga da oposição, mas agora tenho minhas dúvidas. Contrariando a pequena expectativa criada pelo projeto do saudoso Clodovil Hernandes, que propunha a redução à metade do número de deputados federais, o ex-governador propõe a criação de sete novas vagas da Câmara para representar brasileiros que vivem no exterior.

Qual é o sentido prático dessa medida? Cristovam argumenta apenas que não há representação na Câmara para expatriados e que esse sistema existe em outros países. Segundo o TSE, há pouco mais de 130 mil eleitores registrados no exterior dentre três milhões de brasileiros que moram fora do país. Para se ter uma idéia, um partido precisa de mais de 400 mil votos para eleger um deputado federal em São Paulo.

O problema que deve ser resolvido é o da proporcionalidade. Se o maior estado do país precisa de tantos votos por deputado, Roraima, que tem menos de 250 mil eleitores precisa de menos de trinta mil votos por deputado. Isso quer dizer, na prática, que o voto de um roraimense vale o mesmo que o voto de treze eleitores paulistas.

Será que Cristovam está mesmo preocupado com representação?

quinta-feira, 26 de março de 2009

Vou passar cerol na mão! Vou sim!

Cerol é uma mistura de cola com vidro moído que as crianças (às vezes nem tão crianças) passam na linha da pipa para guerrear e cortar linhas de outras pipas. Mas nem sempre o alvo atingido é o planejado. Muitas vezes, motociclistas morrem ou têm seus pescoços cortados quando cruzam uma via com uma linha dessas atravessada.

O deputado estadual Alessandro Calazans, do PMN, apresentou o projeto de lei no 576/2003 que libera e regulamenta o uso dessa arma por adolescentes com dezesseis anos ou mais com a justificativa de favorecer os fabricantes de cerol, que estariam sendo prejudicadas pela proibição.

É claro que os motociclistas estão protestando através dos meios cabíveis tentando convencer os deputados a reprovarem a lei que, cá entre nós, não tem cabimento. A eles, recomenda-se o uso de antenas que cortem as linhas no guidom da motocicleta. Vejam só o que achei no Google, com mais 11.600 resultados:

  • Mulher morre após ser degolada por linha com cerol em Sorocaba (SP)
  • Motoqueiro morre por linha com cerol
  • Motociclista morre degolado por linha com cerol em MS
  • Homem morre na BR-116 atingido por linha com cerol

  • Só para constar, o deputado Calazans já foi envolvido em diversos processos. Na Alerj, quase foi cassado em 2004 por favorecer um acusado na CPI da Loterj, mas permaneceu no cargo e foi reeleito ano passado.

    Atualização em 30/03: Após enviar um email para o deputado reclamando do projeto, recebi a seguinte resposta: "A legislação atual não atingiu seu objetivo, as pessoas não pararam de usar o cerol e os acidentes continuam, esta nova lei irá regulamentar e facilitar a fiscalização, que hoje é nenhuma". Pergunto por que motivo haverá fiscalização se a lei passar. Não basta aumentar a fiscalização hoje e prender quem produz esse componente?

    terça-feira, 24 de março de 2009

    Guerra dos Tabajaras: quem são os responsáveis?

    A cena já foi mais comum na cidade, mas não deixa de ser surpreendente. Assim, tão próximo à minha casa, foi a primeira vez que vi. Saindo do metrô da Siqueira Campos pela Figueiredo de Magalhães, vi os carros voltando na contramão da Rua Tonelero para evitar o fogo cruzado que se estabeleceu na esquina com a Rua Santa Clara. Felizmente a polícia agiu de forma exemplar, capturando a maioria dos traficantes, matando outros poucos e sem maiores danos à população civil.

    A guerra dos Tabajaras acontece porque traficantes da Rocinha querem tomar o morro que separa Copacabana de Botafogo. E o que nós temos com isso? Bem, o fato é que é a Zona Sul do Rio é o mercado consumidor de drogas e a ladeira dos Tabajaras fica numa situação estratégica de distribuição.

    E de quem é a culpa, afinal? É claro que a política de combate às drogas é desastrosa, focando muito mais na parte coercitiva do que educativa. Mas, no final, a responsabilidade é nossa, da classe média que mora nos bairros nobres da cidade, que acha legal dividir um baseado ou oferecer uma carreirinha de pó. Tudo isso para depois sair de camiseta branca na rua ou criticar nossos governantes.

    segunda-feira, 9 de março de 2009

    Upa, upa! Mas não caia do cavalo!

    Semana passada, o governador do Rio de Janeiro anunciou que fecharia a ortopedia das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de todo o Estado. As UPAs foram a principal obra de Cabral e também a principal promessa de campanha do prefeito Eduardo Paes, que se comprometeu a construir quarenta delas.

    A questão foi posta ainda nos debates entre os candidatos a prefeito: de que adianta construir se não é possível contratar? O problema é que com os salários medíocres pagos aos médicos, eles se recusam a trabalhar para o Estado. Das 80 vagas abertas pelo governo, apenas 22 foram preenchidas. Podemos imaginar a qualidade e a satisfação dos médicos que trabalham por tão pouco, certo? Mas com tanto dinheiro que recebeu das empreiteiras, o prefeito é bem capaz de cumprir a promessa.

    Então, é melhor que seus eleitores tomem cuidado para não cair do cavalo. Podem faltar médicos para cuidar dos traumas.

    quarta-feira, 4 de março de 2009

    Guerra aérea

    Está declarada a guerra entre Sérgio Cabral Filho, o governador almofadinha, e a Agência Nacional de Aviação Civil, aquela que não consegue organizar o tráfego aéreo brasileiro. Explico a situação: desde 2005, o aeroporto Santos Dumont só podia operar na ponte aérea, de acordo com decreto publicado pelo antigo Departamento de Aviação Civil, substituído pela ANAC.

    Por causa dessa portaria, o aeroporto, que tem capacidade para operar 23 vôos por hora, estava funcionando somente com quinze. Ora, quem mora no Rio de Janeiro sabe o transtorno que é para chegar no aeroporto do Galeão (Tom Jobim), que fica na Ilha do Governador. Na hora do rush, a linha vermelha fica impossível e é necessário sair de casa com horas de antecedência para não perder o voo.

    Por que não, então, aproveitar a capacidade do SDU? Porque o governador está tentando "vender" o Galeão, sem levar em consideração o que é melhor para a população da cidade. Seu medo é que parte do movimento mude de aeroporto, enfraquecendo a concorrência pela concessão do GIG – que, aliás, fica parecendo uma rodoviária em dias de pico.

    Segundo o jornal O Globo, Cabralzinho "declarou guerra à Agência Nacional de Aviação Civl (...) e prometeu retaliar com elevação de impostos" porque a nova companhia aérea, Azul, ganhou um terminal, aumentando a concorrência.

    Será que Cabral está perdendo alguma coisa nessa jogada? O que as outras companhias aéreas têm a oferecer que não aparece por aí?

    quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

    Exposição eleitoreira?

    Hoje o Democratas e o PSDB entram com uma ação contra Lula e Dilma Roussef devido à "exposição diuturna e ostensiva do nome da pré-candidata" com "viés nitidamente eleitoreiro". Isso expressa apenas o óbvio, assim como em seu primeiro mandato, o presidente nunca deixou de estar em campanha.

    A prática é comum e até certo ponto inevitável. Basta lembrarmos da exposição que fazia Itamar Franco de seu Ministro da Fazenda e potencial candidato à Presidência da República Fernando Henrique Cardoso que, inclusive, gostava de fazer pronunciamentos em rede nacional de televisão e rádio.


    Pouco tempo depois seu nome sairia como candidato da coligação PSDB-PFL.

    terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

    Brilho eterno de uma mente sem lembranças

    É impossível não cair no chavão de que a vida imita a arte. Uma experiência publicada na revista Nature Neuroscience informa que um conhecido remédio para o arritmia cardíaca e pressão alta, o propanolol, quando administrado em até 24 horas após um trauma, pode apagar essa memória potencialmente causadora de uma fobia.

    É uma porta perigosa que se abre, como no filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", em que uma firma apaga as memórias ruins de seus clientes, que acabam por repetir os mesmos erros do passado. Mas também é uma forma de se aliviar o estresse por traumas que podem se tornar bloqueios sociais.

    O medo tem uma função para todos os animais que é a preservação da própria vida. Ele está diretamente conectado com o instinto de sobrevivência. Sem essas memórias, o medo não se desenvolve e os deixa muito mais vulneráveis.

    Além disso, é necessário saber que efeitos o propanolol administrado com esse fim pode ter nas memórias a longo prazo. De qualquer maneira, é uma novidade interessante e que, se conduzida com responsabilidade, pode aumentar a qualidade de vida de pessoas com estresse pós-traumático.

    segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

    Entre o verossímil e a verdade

    Minha reação ao ler a respeito da brasileira Paula Oliveira, agredida por neonazistas na Suíça que levaram ao aborto de gêmeas que esperava, foi a mesma de todos os brasileiros: indignação e orgulho ferido. O fato era perfeitamente plausível – e até esperado – numa época em que a xenofobia está em alta devido à crise econômica global.

    Mas em pouco tempo começaram as contradições. A investigação forense indicou que a brasileira não estava grávida. Será? Não há por que a Suíça esconder-se por trás de divulgações de falsos boletins médicos e resultados de investigações. Dizem que ela se agrediu com um estilete porque tem personalidade limítrofe.

    O fato é que até o Presidente Lula exigiu uma investigação detalhada e parece não aceitar o aparente descaso com que a polícia está tratando o caso, que chegou a se tornar um pequeno incidente diplomático com potencial para ir parar na ONU. Agora a Suíça exige um pedido de retratação.

    É verdade que a imprensa se precipitou: repetiu a versão da brasileira como se fosse um fato. Por esse motivo, foi alvo de críticas da imprensa suíça, que a qualificou como sensacionalista. Mas, dada a conjunção dos fatores, o trauma do caso Jean Charles, os estudantes do Iuperj expulsos da Espanha entre outros abusos, será que podemos realmente culpar a mídia pela precipitação?

    Eu digo que sim. Aquele que quer informar jamais pode publicar um fato sem uma prévia apuração. A imprensa brasileira emite opinião travestida de fato puro. Um outro quarto poder, como diz Afonso de Albuquerque, que assume o lugar de porta-voz da verdade. E ai daqueles que discordarem.

    terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

    Sobre eutanásia e ortotanásia

    Sempre que há um caso desse tipo, levantam-se as polêmicas éticas, religiosas e jurídicas. Ontem morreu Eluana Englaro, uma italiana que estava há dezessete anos em estado vegetativo. Assim como a americana Terri Schiavo, ela teve sua hidratação e alimentação artificiais suspensas até que morresse. Levou apenas quatro dias, ao contrário da americana que ficou quatorze dias até morrer de inanição ou desitratação.

    Deixando claro: sou a favor do direito de morrer. Às vezes o mais importante é terminar a vida de uma forma digna ao invés de prolongá-la indefinidamente com muito sofrimento até que todos os órgãos do corpo parem de funcionar. Mas por questões legais, a prática da eutanásia (ativa) jamais acontecerá. Resta a opção pela ortotanásia (eutanásia passiva), que pode infligir sofrimento àquele cuja família optou pela morte.

    Não se sabe até que ponto uma pessoa em coma profundo sente, sofre ou percebe o que se passa a sua volta. Não é possível medir o sofrimento de uma pessoa que morre por inanição sem poder expressar sua dor. Seria a eutanásia um fim mais humano? Interromper de uma vez a vida no lugar de permitir que a pessoa tenha uma morte natural e possivelmente sofrida?

    sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

    Obama e a difícil tarefa de agradar o povo

    O governo democrata de Obama começou e, como disse Lula, o novo presidente estadunidense tem um "pepinaço" nas mãos. Mas esse pepino, abacaxi ou qualquer fruta ou legume além das abobrinhas que seu colega brasileiro fala, pode estar muito além da questão econômica.

    Seu pacote de medidas para a revitalização econômica não conseguiu consenso, mas acabou aprovado no congresso e tem boa chance no senado. A cláusula "Buy American", que define que o ferro e aço utilizados nas construções civis oriundas desse pacote devem ser produzidos nos Estados Unidos, fere os princípios do livre comércio e pode encontrar problemas na Organização Mundial do Comércio. É possível que as retaliações acabem levando prejuízo ao país.

    Outro fator: a onda de xenofobia está aumentando ao ponto de um senador sugerir que a Microsoft demita primeiro os trabalhadores estrangeiros dentre os 5 mil que está planejando mandar para casa. Para um presidente que foi eleito prometendo aliviar a barra para os imigrantes, o problema é grande. O provável é que ele adie qualquer decisão a respeito do tema.

    domingo, 25 de janeiro de 2009

    Jeitinho no trânsito

    Algumas infrações já se tornaram coisa natural no trânsito do Rio de Janeiro. Em lugares específicos, bandalhas já são quase tradição, como nos retornos da Av. Atlântica no Leme, e em algumas calçadas parece até que é permitido estacionar, pois sempre se fez assim e nada foi feito para mudar isso.

    Sinais de pedestre são um exemplo. São poucos os lugares em que esse tipo de sinal é respeitado. Na maioria das vezes, o motorista olha para os lados e, se der para avançar sem atropelar ninguém, ele segue em frente.

    Nesse sinal, em Copacabana, o motorista não teve o menor pudor de estacionar sobre a faixa de pedestre. Afinal, era noite, não ia atrapalhar tanto, certo? Não sei qual é a fronteira em que o "jeitinho" começa a ficar perigoso, mas talvez seja hora de começarmos a pensar diferente caso desejemos mudar alguma coisa na cultura do cotidiano desse país.

    segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

    Choque de sensacionalismo

    O jornal O Globo devia estar mesmo desesperado porque o ex-prefeito Cesar Maia não anunciava em suas páginas. O antigo prefeito economizou um bom dinheiro deixando de investir em publicidade, mas também criou adversários fortes. Some-se isso a sua pouca popularidade e ele virou um prato cheio para os jornais.

    Juntando o útil ao agradável, O Globo inventou um "choque de ordem", supostamente sendo realizado pelo novo prefeito, Eduardo Paes. Até agora, o que eu vejo é algo que já existiu, mas nunca surtiu o efeito esperado, como a Guarda Municipal, correndo atrás dos camelôs, que já têm sua barraquinha compactável montada para uma fuga emergencial quando o rapa chega.

    Agora, quem sabe, começarão a surgir as propagandas da Prefeitura do Rio no jornal. Por enquanto, não senti nenhuma diferença nesse tal "choque". Os mendigos continuam ocupando as praças em Copacabana, os carros continuam sobre a calçada e os camelôs só correm quando a guarda passa, mas logo voltam a seu lugar, assim como os mendigos retirados.

    As imagens abaixo foram tiradas por mim numa breve camihada em Copacabana agora há pouco.

    sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

    Uma nota sobre a guerra de Israel

    Existe muito sensacionalismo na imprensa brasileira – e mundial – sobre a guerra que explodiu entre Israel e o Hamas na faixa de Gaza. Concordo que é muito difícil para quem se informa apenas pelos jornais entender o real motivo da invasão e saber quem realmente tem razão nesse conflito.

    Em 2005, a faixa de Gaza passou a ser praticamente um país independente. Os colonos judeus foram retirados à força pelo exército de Israel, que recuou para o lado israelense da fronteira. Então, o Hamas e o Fatah, do líder da Autoridade Naciona Palestina, entraram em guerra pelo controle da região. O Fatah, moderado, acabou levando a pior e o Hamas assumiu o poder.

    Durante esse tempo, milhares de mísseis foram atirados a esmo contra a população civil de Israel, visando apenas a tirar vidas dos israelenses, considerados inimigos pelos radicais do Hamas. As baixas foram poucas porque lá todas as casas contêm bunkers para proteger a população. Já o Hamas esconde suas armas e seus pontos de lançamento entre a população civil, pois sua morte é um artifício para virar a opinião pública contra Israel. São verdadeiros escudos humanos.

    Após muitos avisos, Israel revidou. Bombardeou os quartéis do Hamas matando muitos militantes, entre eles alguns líderes do grupo. Matou também alguns civis, a maioria próxima aos quartéis do Hamas. A população de Gaza continua a apoiar o Hamas apesar deles serem os responsáveis por toda a desgraça que recai sobre aquela terra. Já tiveram uma opção: poderiam ter se esforçado para que o Fatah controlasse a região, o que tornaria o diálogo com Israel muito mais fácil.

    O Hamas tem escolas, centros de treinamento e outros estabelecimentos para criar soldados alimentados com ódio a Israel e a tudo o que o país representa. E são eles que Israel tenta destruir, ao contrário do que a imprensa tenta fazer entender. Não há massacre: a grande maioria dos mortos na guerra é de militantes do Hamas.

    Para deixar bem claro: sou a favor da independência da Palestina, tanto na faixa de Gaza quanto na Cisjordânia. Se eles não existiam como povo, hoje possuem uma identidade e merecem uma nação. Mas um país que declara como propósito a destruição de outro dá a este direito de se defender. E é isso que Israel faz – desde 1948.

    O vídeo abaixo mostra um pouquinho do que é o Hamas.

    terça-feira, 6 de janeiro de 2009

    Ninguém é a favor do aborto

    Não compreendam mal o título deste texto. É que eu acabo de ler uma matéria no Globo online contendo a seguinte frase sobre um filme patrocinado pela Fioruz: "Documentário é claramente a favor do aborto".

    A imprensa faz isso com frequência: distorcer as informações que têm relação com o tema aborto. Vejamos no caso da Jandira Feghalli, uma conhecida ativista, por exemplo. Na reportagem do jornal O Globo do dia 18 de setembro, vemos a seguinte frase: "A candidata também negou que tenha defendido o aborto".

    Para começar, essa é uma prática comum na imprensa: negar para afirmar. Para difamar um político, é só publicar: "Fulano nega ter desviado dinheiro". Sua imagem é destruída sem contar nenhuma mentira, bastando perguntar-lhe se ele desviou dinheiro. Em segundo lugar, eu ainda não conheci uma pessoa que fosse a favor do aborto.

    A prática é violenta e traumatizante. Mas possivelmente é menos traumatizante do que abandonar um filho num orfanato ou, como acontece muito por aí, no lixo. É importante educar a população e fornecer métodos contraceptivos para evitar a gravidez indesejada, mas ela nunca vai deixar de acontecer por completo.

    Dados do Instituto Alan Gutmacher informam que um milhão de abortos são realizados ilegalmente por ano no Brasil com centenas de mortes relacionadas a abortos feitos sem as condições necessárias. Portanto, é absolutamente necessário descriminar o aborto e é isso que os ativistas defendem, e não a prática do aborto em si. É uma questão de humanidade e de saúde pública.