segunda-feira, 16 de março de 2015

A crise é institucional

Não há base para o impeachment da Dilma, isso é fato, pois não há nada que a vincule, nessa gestão, a atos criminosos. Entretanto, também não havia base para o impeachment de Fernando Collor, que acabou absolvido pelo STF. Para isso, ele tinha um testa-de-ferro que, afinal, não era tão de ferro assim.

Assim como em 1992, as manifestações ocorreram, algumas pedindo o fim da corrupção, outras o impeachment, ainda que, como a mídia internacional pontuou, quem foi às ruas era branco, mais velho e mais rico do que os de antes. Outros mais idiotas pediram intervenção militar. Tudo é muito democrático, mas o julgamento da presidente não vai ocorrer, não pelo motivo que falei acima: o PT ainda tem uma sólida base no Congresso que, apesar de não garantir a governabilidade, não vai permitir sequer que o pedido chegue a votação.



Mas a crise está aí e, em muitos aspectos, lembra a que precedeu a ditadura militar: o Brasil está entrando num estado de "paralisia decisória", como definiu Wanderley Guilherme dos Santos em seu livro "Sessenta e quatro: a anatomia da crise". Mas, diferentemente de outrora, os militares não estão dispostos a intervir e, dizem alguns pertencentes aos círculos, riem-se desta possibilidade.

O que pode acontecer é a governabilidade ficar tão comprometida e Dilma, com sua inabilidade política, piorar mais ainda a situação. Desta forma não lhe restará muita saída senão renunciar. E, como resultado desta crise institucional, entregaremos o Brasil de mão beijada para o PMDB, com Michel Temer presidente, Eduardo Cunha presidente da Câmara de Deputados, Renan Calheiros presidente do Senado, maioria no Congresso, maior número de governadores e prefeitos.

Entretanto, esta é uma visão catastrofista. Dilma, com sua personalidade, é capaz de passar quatro anos dando murro em ponta de faca. Ou vai colocar o rabo entre as pernas e chamar Lula para fazer o papel que deveria ser da Casa Civil de negociar com o Congresso.