quarta-feira, 10 de junho de 2009

A imprensa e o gigante

O jornalismo brasileiro, fato, nada tem de imparcial ou objetivo. Não faltam provas em relação a isso, seja no meio acadêmico, seja na própria imprensa. Basta ler o Observatório da Imprensa, do Alberto Dines, ou reportagens de Mino Carta para constatar que mesmo os jornalistas têm essa noção.

Diante disso, a ordem do dia era bater na Petrobras. Aproveitando o clima da CPI, era possível enfraquecer o governo atacando um de seus pilares, a maior fonte de capital do país. Como de costume, os jornalistas enviavam perguntas à assessoria de imprensa da empresa e, com as respostas, preparavam suas matérias como se fossem furos de reportagem. Frases eram tiradas de contexto, dados eram publicados de forma incompleta para dar a sensação de incompetência e inoperância da empresa.

A máscara caiu: a petrolífera resolveu criar seu blog, chamado Petrobras - Fatos e Dados, através do qual publica todas as perguntas e respostas feitas por jornalistas para mostrar ao público a fonte crua das informações da imprensa. Resultado: uma grande discrepância entre as respostas e as reportagens.

A grita da imprensa foi geral, dizendo que a atitude feria o princípio da confidencialidade. O argumento fere a inteligência até dos mais limitados, pois a todos os dados divulgados são públicos e as perguntas, uma vez feitas, não pertencem a ninguém.

Blog da Petrobras - Fatos e Dados
Essa é uma atitude sagaz da Petrobras, que desarmou a imprensa simplesmente dando o outro lado das matérias, provando mais uma vez sua falta de imparcialidade. Mas não há guerra declarada, apenas uma grande empresa que tem seus meios para se defender.

10 comentários:

  1. Muito bem colocado, Flávio.

    Não vejo nada de desonesto ou antiético na atitude da Petrobras em querer se defender. Pelo contrário é até uma maneira justa, de colocar tudo na íntegra, sem pretensiosas lapidações.

    Esse discurso da imprensa sobre ética, "imparcialidade", princípios do jornalismo, não passa de mais uma hipocrisia, e bem arquitetada.

    Grande abraço.

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  2. Tô acompanhando o imbroglio.
    A idéia de criar o blog foi fantástica, jogada de mestre. Pra mim foi melhor uso em prol de uma marca na web desde Obama.

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  3. É no mínimo pitoresco quando a imprensa acusa a Petrobras sobre a falta de "ética" em "vazar" informações obtidas por jornalistas. Seria interessante verificarmos nos últimos anos quantas vezes a nossa "super ética imprensa" divulgou suas informações sem distorções ou interesses alheios. E os colunistas de jornais? Tem colunista que trabalha no jornal de maior circulação do Rio que está sempre antecipando informações. Algumas que a própria Petrobras desconhece. Afinal, a "bola de cristal" do colunista deve ser muito eficiente. As vezes até bem criativa. Quando a imprensa fala em "ética", soa quase como uma anedota. A Petrobras deve sim, proteger-se desta imprensa completamente manipulada e que absurdamente atinge a empresa que mais contribui para o sustento e progresso do Brasil.

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  4. Não acho que seja só a imprensa brasileira imparcial. Existe alguém imparcial? Todos têm um viés ideológico e isto acaba se denunciando na linha editorial. Quanto ao blog, excelente ideia, sem dúvida, mas não sei se é suficiente para driblar as manhas da imprensa. Eu só soube por aqui... e só compro jornal às sextas-feiras... protesto...

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  5. É um tanto quando difícil estabelecer a isenção jornalística sobre a empresa de que se fala quando somos seus empregados, não?

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  6. Este blog é opinativo, como se pode ver no banner do título. Não existe jornalismo isento nem imparcial. A honestidade existe na medida em que se assume uma opinião como tal e se defende com argumentos lógicos, não apelativos como a imprensa vem fazendo em relação ao blog da Petrobras. A admiração em relação a empresa vem de muito antes de trabalhar nela e não fecha meus olhos em relação a seus problemas.

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  7. Caro amigo Flávio,

    A atitude da Petrobras foi, sem dúvida alguma, ESPLÊNDIDA!

    Tão grandioso quanto essa atitude foi o esclarecimento do presidente Gabrielli, em participação no programa Roda Viva, frente as indagações dos jornalistas sobre o Blog.

    Quem ainda não assistiu a entrevista na íntegra, sugiro acessá-la pelo Blog Fatos e Dados.

    Grande abraço.

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  8. Uma Outra Opinião Sobre o BLOG da PETROBRÁS. Extraído da FOLHA ON LINE.

    Sábado, 13 de junho de 2009



    Kennedy Alencar

    Deu a louca na Petrobras?



    A Petrobras não chegou por acaso ao posto de maior empresa da América Latina. Sem competência não teria se estabelecido. Foi fundamental a modernização da gestão de uma empresa de capital misto. Hoje, cerca de 60% de seu capital total está nas mãos da iniciativa privada. A empresa tem ações nas principais Bolsas do planeta. E a União mantém o controle da companhia, mantendo sob propriedade pública a maior parte das ações com direito a voto.

    Apesar de ser usada politicamente pelos governos de plantão, a Petrobras é um caso de sucesso empresarial.

    Por isso mesmo, é incompreensível a decisão da empresa de criar um blog para jogar na rede mundial de computadores questionamentos e observações de jornalistas antes que as reportagens sejam publicadas. Numa empresa privada, o gênio responsável seria demitido.

    A decisão da Petrobras é antiética e burra. Simples assim.

    Quando um jornalista procura a empresa antes de publicar a reportagem, dá a ela a chance de corrigir erros, precisar informações e até de matar uma pauta que não para em pé.

    Esse procedimento não está na letra da lei. É resultado do processo da modernização da imprensa, de seu amadurecimento como instituição que, nas democracias, deve fazer da forma mais responsável possível a busca da verdade.

    A imprensa erra? Erra. A imprensa está cheia de estúpidos? Está. Há parcialidade em alguns veículos? Inegável.

    No entanto, a imprensa brasileira vem melhorando o padrão de seus procedimentos. A decisão da Petrobras quebra uma relação de confiança, digamos assim, necessária à liberdade de imprensa e ao direito de a empresa expor o contraditório.

    Jornalistas serão desestimulados a procurar a Petrobras e a abrir o sigilo de suas informações. Mais: algumas informações não precisariam, necessariamente, ser checadas com a empresa. Se o jornalista tem segurança de sua informação, pode e deve publicá-la. Se errar, arcará com o ônus. Mas a boa prática jornalista recomenda ouvir o outro lado. Em casos de suspeita de corrupção, é obrigatório oferecer o direito de defesa. Mas essa oferta poderá ser feita de forma limitada a fim de preservar informações exclusivas do jornalista.

    A imprensa e a empresa perdem, mas quem perde mais? Sem dúvida, o público.

    O argumento de que a imprensa dá o erro na manchete e se desculpa no pé de página é um bom argumento. Mas há jornalistas e há jornalistas. Há veículos e há veículos. O blog poderia registrar um ranking de quem, do seu ponto de vista, errou. E existe uma Justiça no Brasil que tem sido cada vez mais rápida e dura com a imprensa na concessão de direitos de resposta e reparações materiais.

    É pura cascata falar em transparência. Transparência haveria se a Petrobras esperasse a publicação das reportagens. Se a empresa se sentisse injustiçada, poderia expor os bastidores da troca de informações com a imprensa.

    Por último, há controvérsia sobre a ilegalidade da decisão da Petrobras. As opiniões de especialistas, até o momento, tendem majoritariamente a dizer que é absolutamente legal. Pode ser, mas é absolutamente antiética e burra. Demonstra intolerância a críticas e incompetência empresarial.

    Na democracia liberal, as empresas buscam melhorar suas relações com a imprensa. Como os políticos entenderam que precisam dialogar com a imprensa para exercer o poder, as empresas necessitam fazer o mesmo para lucrar.

    Difícil compreender como uma empresa que precisa enfrentar uma CPI no Senado, investir na exploração do pré-sal e continuar com sua trajetória de sucesso possa ter uma gestão capaz de dar um tremendo tiro no pé. Decisões desse tipo só reforçam a imagem de uma empresa que ainda precisa realmente avançar muito na transparência. Transparência dos seus próprios atos.

    *

    Sítio

    Quem quiser conhecer a genial estratégia de comunicação da Petrobras, acesse o link.



    E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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  9. Deixa de ser picareta, assume que trabalha no cabidão da Petrossauro.

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