quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O longo golpe

Desde as eleições de 2014, o Brasil enveredou por um caminho obscuro e sem possibilidade de final feliz. A retirada de Dilma Roussef da Presidência da República foi consequência de um plano bem orquestrado para frear as investigações de corrupção e, ao mesmo tempo, reverter o processo de distribuição de renda e os avanços sociais obtidos nos governos de esquerda que vigoraram entre 2011 e o golpe de estado. Mas de longe não foi o último passo.

O PT ganhou pela quarta vez seguida as eleições presidenciais, mas por uma margem muito pequena. Da mesma forma, perdeu enormemente o espaço que tinha no Congresso, ficando sem base de apoio. Dessa forma, foi muito fácil para o PMDB retirar seu apoio e partir para uma oposição feroz. Combinando com o baixo clero e com o PSDB, o Congresso freou todos os ajustes que o governo achava necessários para controlar a crise, além de aumentá-la com a imposição de pautas-bomba.

Explicando para quem não quiser clicar nos links: baixo-clero são os políticos sem vínculo ideológico que são movidos por interesses pessoais. São de difícil negociação, quando em grande número, porque exigem grande esforço pessoal e, na soma, altas verbas. São políticos de partidos como PRB, PP, PTB, PR e outros sem programa para o país cuja votação na Câmara é extremamente volátil. Pautas-bomba são pautas que o Congresso põe em votação que aumentam o gasto ou diminuem a arrecadação. Têm como principal propósito desestabilizar o governo.

Uma vez fragilizado, o governo virou alvo fácil. Tão fácil que as "pedaladas fiscais", muito comuns em todos os governos no Brasil, foram o pretexto jurídico para a abertura do processo de impeachment, mas pouco citadas nos votos a favor. Estava em andamento o plano "B" para a não eleição de Aécio Neves: tomar o poder na marra. Alinhado com o Poder Judiciário e com a grande mídia, que ajudou a moldar a opinião pública, o Congresso derrubou a presidenta e empossou Michel Temer. E o golpe estava apenas começando.

O que se viu em seguida foi um desmanche frenético de tudo o que havia sido feito no governo anterior: programas sociais, direitos básicos, ministérios para as minorias, tudo desfeito de uma vez só. A pressa era grande e a desculpa eram os gastos. A PEC 241, por exemplo, congela os gastos com saúde, educação e funcionalismo público por 20 anos. Os direitos trabalhistas também entraram em revisão, assim como a Previdência. A proposta para idade mínima para aposentadoria supera a expectativa de vida em alguns lugares do país.

As isenções fiscais continuam. Os impostos sobre grandes fortunas e sobre o mercado financeiro não são discutidos, os juros continuam estratosféricos e, hoje, gasta-se 50% da arrecadação em seu pagamentos. Apenas os juros, ou seja, nada de amortizar a dívida. E, com uma taxa de juros de 14% ao ano, recursos que poderiam ser utilizados por investidores do setor produtivo para o mercado financeiro acabam sendo atraídos para a compra de títulos.

Como eu disse no artigo anterior, o Brasil apertou o botão da autodestruição. O país será cada vez mais pobre, com a renda cada vez mais concentrada, e cada vez menos produtivo, tanto industrialmente, como em termos de ciência e tecnologia. Não há interesse deste governo em melhorar a saúde do povo: quanto menos se vive, menos se gasta com previdência. Mais dinheiro sobra para pagar aos banqueiros que, se não financiaram esse golpe, pelo menos estão muito felizes com o rumo que as coisas tomaram.

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