terça-feira, 16 de abril de 2013

A Guarda Municipal precisa acabar

Assim que surgiu a Guarda Municipal, não estava muito claro o seu papel, mas era dito que reprimiria a ação ilegal de camelôs. Em seu então uniforme azul, o que era visto era a apreensão de mercadorias que variavam de CDs piratas a frutas e verduras vendidas em barraquinhas. Existe uma grande diferença entre um e outro: o primeiro se utiliza de material alheio para lucro fácil, o segundo compra para revender, mas não tem autorização; a mercadoria do primeiro por si só já constitui crime, a do segundo é comprada legalmente nas centrais de abastecimento.

Eu já achava um absurdo que ambos tivessem o mesmo tratamento e não tenho certeza de que o auto de infração fosse preenchido devidamente em algum dos casos. A antiga "polícia fascista do Cesar Maia", como uma vez chamou uma professora minha, ganhou novas cores e nova chefia, mas não perdeu a pose. Entrou em conflito com camelôs, com a Polícia Militar e até com a população.

Sexta, dia 12 de abril, eu estava passando pelo Largo da Carioca quando vi um burburinho com cinco guardas municipais envolvidos. Eles estavam tentando apreender os instrumentos da banda argentina Dominga Petrona, que toca do funk ao ska e gera uma grande admiração e curiosidade entre os passantes. Um cidadão afirmou categoricamente que teriam de passar por cima dele para pegar os instrumentos da banda.


Quando comecei a fotografar o incidente, os guardas se afastaram. Falei alto para todos ouvirem: "Tem um cara vendendo programas piratas ali na frente do Edifício Avenida Central e pivetes assaltando na Praça São José, será que a Guarda Municipal não tem outras coisas para fazer?". O povo foi se inflamando e continuou defendendo a banda. Um dos guardas, cujo rosto aparece na foto, olhava para mim e ria: "Você é advogado?"


Continuei a defender a banda e perguntei por que não abordavam o cidadão que obviamente estava cometendo um crime. "Não sou policial civil", respondeu o guarda sorridente. E se aproximou de mim em pose desafiadora. Não me acanhei e andei em direção ao guarda. "Você está me acusando de alguma coisa?", questionou. "Estou denunciando uma atividade ilegal, você não está vendo? Claro que não, está de costas para o que acontece, não tem nada mais importante para fazer do que expulsar uma banda que só faz bem para a cidade".


Provavelmente desejei que o guarda encostasse a mão em mim tanto quanto ele desejou que eu o desacatasse. Nada disso aconteceu. Ele disse "Não vou ao seu escritório prejudicar seu trabalho, não prejudique o meu", ainda supondo que eu fosse um advogado. Respondi que ele prejudicava o trabalho da banda e eu, como cidadão, tinha o direito de protestar.

Ainda tive sorte de viver num Rio de Janeiro que, por mais desorganizado e violento que fosse (e ainda é), às pessoas era permitido expressar-se artisticamente. O que vão fazer agora? Prender estátuas humanas? O blueseiro que todos os dias toca na Carioca? Fechar as bancas de jornal que expõem vídeos musicais? Os peruanos que tocam flauta?

Esse é o Rio de Eduardo Paes: a "Ordem", o que quer que isso signifique, independentemente do péssimo sistema de transporte, das vias caindo aos pedaços, das vans e kombis legais e ilegais, dos buracos nas ruas, das obras repetidas, dos incêndios suspeitos no Centro, dos gabaritos desrespeitados e do Engenhão caindo aos pedaços.

10 comentários:

  1. Respostas
    1. O "Bluseiro" do largo da Carioca e aosentado da PETROBRAS, sabia?
      Quanto acabar com ainstitição "Guarda Municipal" acho exagero. O que tem que ser trocado é o pessoal inadequado que colocam para dirigí-la.
      Hélio Vaitsman

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  2. Gostei, Flavio. Sua grande vocação é o campo da política.
    Um abraço
    Waldemar

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  3. Só pelo fato de serem argentinos mereciam levar um pau, vai fazer barulho em buenos aires !!
    Concordo com há exagero por parte da guarda municipal, porém, neste caso, ela agiu de acordo com as suas atribuições.
    Não é atribuição da guarda municipal combater crimes, sejam pequenos furtos ou pirataria, a sua atribuição é manter a ordem e proteger o patrimonio público.
    Quando ela proibiu os argentinos de tocar, ela estava mantendo a ordem, por que para tocar em praça publica, é necessario uma autorização, que fica pronta em 2 dias(pelos menos na teoria).
    Conclusão, se não houve violência, a guarda agiu dentro da sua atribuição, se concordamos ou não, é uma outra questão.

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    1. Pelo preconceito, sua opinião já tem menos valor. Mas quanto ao argumento da ordem, todos são capacitados para efetuar prisão civil. A GM tem os meios para deter o cidadão e chamar a Polícia Civil, mas não o faz.

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    2. Pela sua falta de conhecimento funcional a sua informação induz as pessoas a erro.

      Só para te esclarecer, este patrulhamento ostensivo é atribuição da PM, a polícia civil tem um foco investigativo.

      Capacitados? posso garantir que nem a PM é, o que ela tem são meios coercitivos, arma de fogo e teaser.

      Ainda que a capacidade referida na sua resposta fosse a prisão civil, prevista na CF, por que você não prendeu os meliantes??

      A GM pode reprimir os furtos? pode, assim como qualquer um, mas não é sua atribuição, ou seja, não fazer, não significa desvio de função. Agora manter a ordem e tirar os argentinos,sem autorização, da rua ela pode , o que não pode é deportar-los.

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  4. Só para concluir , eles tocam muito mal!!!!

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  5. Os argentinos arrebentam! Tocam bem pracas!

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    1. Comprei um CD deles, está direto no rádio do carro!

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    2. Comprei um la em Buenos Aires em 2007! Era a mesma banda, com outro nome e alguns dos componentes ainda são os mesmos. Eles arrebentam!

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